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ASPECTOS GEOBOTÂNICOS

A abordagem de aspectos geobotânicos, no contexto do inventário florestal do Rio Grande do Sul, objetiva oferecer subsídios relacionados com as relações do meio físico, representado pelas interdependências das feições geológicas, geomorfológicas, pedológicas, climáticas e hidrológicas, que exercem marcante influência na distribuição da mata nativa.

A cobertura vegetal é a resultante das interações acima referidas, cabendo destaque especial a influência da disponibilidade hídrica no ambiente, contemplando a água no solo e no ar. É pertinente enfatizar que a vegetação corresponde a porção mais visível e de resposta imediata às modificações do comportamento hídrico do ambiente.

As características geobotânicas constituem importantes bases para entender a intensidade e a distribuição da regeneração natural espontânea, que deveria merecer atenção especial na avaliação quantitativa e qualitativa dos recursos hídricos das bacias hidrográficas. Tais posturas se tornam pertinentes especialmente nos programas de atuação do setor produtivo agropecuário e florestal em nível de microbacias hidrograficas, contribuindo para um desenvolvimento sustentável.

A variabilidade litológica e estrutural, inerentes aos processos geológicos que se manifestaram no território do Rio Grande do Sul, se expressam sob diferenciações fisiográficas com peculiaridades geomorfológicas, pedológicas, climáticas e hidrológicas distintas, as quais se associam diferenciações de caráter botânico.

A presente abordagem tenta estabelecer as interrelações entre os diversos componentes que moldam as diferentes paisagens, bem como comportamentos peculiares da vegetação natural nos diversos ecossistemas, onde as condições edáficas e as disponibilidades hídricas exercem controles marcantes.

Os efeitos benéficos da regeneração natural espontânea da mata nativa na manutenção da perenidade dos recursos hídricos constituem importante paradigma para futuros critérios de outorga e cobrança pelo uso da água, conforme preconizado por legislações estadual e federal.


A variabilidade das feições fisiográficas do Rio Grande do Sul resulta de controles geológicos e estruturais, inerentes aos processos geológicos, geomorfológicos, pedológicos e climáticos que se manifestaram no território gaúcho, resultando na seguinte Caracterização Geobotânica do Rio Grande do Sul.

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1 - Serra do Sudeste: Rochas Granitóides, Xistos, Quartzitos, Metassedimentares e Metavulcânicas.

A região fisiográfica denominada Serra do Sudeste é caracterizada por uma complexidade litológica, envolvendo as rochas mais antigas do Rio Grande do Sul, constituindo associações de rochas granitóides (granitos, gnaisses, migmatitos), xistos, quartzitos, mármores, metassedimentares e metavulcânicas, que se expressam sob feições geomorfológicas e pedológicas muito diferenciadas. Entretanto, evidenciam como feições geológicas comuns a marcante incidência de fraturas de origem tectônica, que exercem controle na distribuição dos recursos hídricos, com diretas implicações edáficas que favorecem a incidência de matas nativas.

a) Rochas granitóides
As rochas granitóides, muito fraturadas por diversos eventos tectônicos, com marcantes incidências de afloramentos rochosos e solos com pronunciadas limitações de fertilidade natural, exercem pronunciado controle da distribuição da mata nativa através da dsiponibilidade hídrica influenciada pela geologia estrutural. Os cursos d'água, desenvolvidos sobre um substrato rochoso impermeável, evidenciam um padrão de drenagem superficial bastante controlado por fraturas de origem tectônica , que exercem marcante polarização do armazenamento e do fluxo da água subterrânea, que se manifestam freqüentemente sob a forma de olhos d'água e vertentes.
Nesse contexto, ocorrem matas galerias e ciliares diretamente relacionadas a presença de cursos d'água, onde as condições edáficas favorecem tais incidências, evidenciando um padrão peculiar de distribuição arbórea. Tem sido observado que as vertentes das elevações topográficas voltadas para sul, evidenciam maior intensidade e exuberância de mata nativa, devido a incidência da maior freqüência de ventos úmidos e menor efeito de insolação.
No entanto, cumpre destacar que inseridas na denominação geral rochas granitóides, ocorrem rochas alcalinas, como é o caso do Cerro Piquiri no Município de Cachoeira do Sul, onde a presença de minerais fosfatados, como apatita, define anomalias geobotânicas, representadas por mata nativa de maior envergadura, independente da orientação topográfica em relação as incidências dos ventos úmidos e da insolação. Comportamento similar decorre da presença de rochas calcárias ( mármores e rochas calcosilicatadas ), nos Municípios de Caçapava do Sul, Santanas da Boa Vista, São Gabriel, Cachoeira do Sul, Pantano Grande, Arroio Grande, Pinheiro Machado e Bajé, onde a presença de carbonatos de cálcio e de magnésio provocam menor acidez do solo facilita o desenvolvimento da vegetação.
Muitas das matas galerias, de fundo de vales, nesse contexto apresentam predominância der espécies caducifolias (açoita-cavalo e branquilho), caracterizando um tom acinzentado no período invernal o que contrasta com as demais matas nativas que , manifestam tons mais verdes escuros, devido a predominância provável de espécies de mirtáceas.

b) Xistos e quartzitos
Estas litologias metamórficas, espacialmente associadas com as rochas granitóides, correspondem a um relevo bastante acidentado, sendo os xistos caracterizados por um alta densidade de drenagem, com padrão típico de "espinha de peixe", caracterizando subsolo e solo impermeável, cujas condições edáficas polarizam o desenvolvimento de mata nativa que também se expressa segundo um padrão do tipo "espinha de peixe".
Os quartzitos puros definem cristas topográficas desprovidas de vegetação arbórea, face a ocorrência de afloramentos rochosos e solos rasos pedregosos, desprovidos de fertilidade natural e com elevada permeabilidade.
Eventuais ocorrências de mármores (calcários dolomíticos) e xistos argilosos podem expressar solos profundos de boa fertilidade, aos quais se associam concentrações de mata nativa de maior envergadura, sempre verde.

c) Rochas metassedimentares e metavulcânicas
O domínio espacial de rochas metassedimentares e metavulcânicas está sempre associado aos xistos e quartzitos, em posição estratigráfica sobreposta , ocorrendo um grande contraste na paisagem em razão da elevada permeabilidade, principalmente das litologias metassedimentares, devido a escassez de nutrientes no solo e devido a toxidez de metais. É pertinente mencionar que neste contexto geológico ocorrem mineralizações de cobre, a exemplo da Mina do Camaquã.
A vegetação nativa se expressa por arbustos e cobertura arbórea de pequeno porte, adquirindo maior envergadura sob a forma de matas ciliares ao longo dos cursos d'água que integram , no contexto geral, uma baixa densidade de drenagem. Predominam na vegetação tons acinzentados devido a predominância de espécies de anacardiáceas (aroeiras).
Anomalias de vegetação de maior porte estão associadas com as incidências de solos mais profundos, derivados de rochas metavulcânicas básicas, que se inserem como ocorrências isoladas na região.

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Depressão Central : Litologias Sedimentares e Aluviões

A região fisiográfica denominada Depressão Central do Rio Grande do Sul corresponde ao domínio de litologias sedimentares, representadas por seqüências de arenitos, siltitos, argilitos e folhelhos, que definem um relevo suave ondulado, cujos solos foram objeto de intensa atividade agropecuária, correspondendo na sua porção central aos depósitos aluvionares do Rio Jacuí.
As matas nativas, atualmente, se concentram ao longo dos cursos d'água, onde adquirem expressiva envergadura., com resquícios do ecossistema original, que provavelmente era constituído por densa mata por toda a depressão central.
A seqüência de arenitos intercalados com siltitios, argilitos e folhelhos provoca surgências de água subterrânea, sob a forma de olhos d'água e banhados, condicionando a ocorrência de capões de mata nativa mais densa.
Originalmente apenas onde se manifestavam banhados e condições de solo raso em topo de morros areníticos não deveria existir cobertura florestal.
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Zona da Fronteira Sudoeste

O domínio geológico predominante é o das rochas vulcânicas basálticas, representadas por sucessivos derrames e intercalações de arenitos intertrápicos, que definem uma superfície tabuliforme, com escarpas nos limites a leste, onde ocorrem os arenitos da Formação Botucatú, a exemplo de Santana do Livramento, sucedendo-se litologias sedimentares representadas por arenitos, siltitos, argilitos e folhelhos, estratigraficamente sotoposta no sentido leste até a serra do sudeste.
Na escarpa de transição entre os derrames basálticos e o Arenito Botucatú, ocorrem significativas surgências de água subterrânea, que alimentam os cursos d'água, condicionando um microclima e condições edáficas que favorecem a incidência de matas nativas de razoável porte, contrastando com os campos e savanas que predominam no contexto regional.
Na transição entre sucessivos derrames vulcânicos, que definem escarpas entre morfologia tabuliforme, ocorrem afloramentos de água subterrânea, aos quais se associam com muita freqüência mata nativa acompanhando as formas de relevo. O marcante controle estrutural, por fraturas de origem tectônica, dos cursos d'água influencia a incidência de mata nativa ciliar ou galeria, face as condições edáficas favoráveis
Nas zonas de predomínio dos arenitos da Formação Botucatú, os solos arenosos muito suscetíveis à erosão e sua limitada fertilidade natural, a vegetação nativa é de caráter arbustivo (savanóide), que contrasta com a vegetação de gande porte, quando da presença de condições edáficas mais favoráveis nas zonas de contato com as rochas vulcânicas estratigraficamente sobrepostas. Morros testemunhos do primeiro derrame basáltico condicionam anomalias de mata nativa que contrasta com a vegetação do tipo savanóide associada aos arenitos.
Parcela significativa de ocorrência de solos arenosos degradados (areiais), nos domínios do Arenito Botucatú, correspondem a cicatrizes de processos de lixiviação por condicionamentos paleohidrogeológicos controlados por lineamentos tectônicos, que sofreram também efeitos de ações antrópicas, que remontam a época de ações de missões jesuíticas.
A vegetação predominante deveria ser constituída por butiazais que são cobertura arbustiva muito densa, cujos testemunhos são ainda encontrados na região.
Mata nativa removida por queimadas, para plantio de culturas de arroz irrigado ao longo de cursos d'água, a exemplo do Rio Icamaquã, manifestaram regeneração rápida após dois anos, caracterizando mata com árvores da ordem de 10 metros de altura, provavelmente pela influência favorável de nutrientes e condicões edáficas relacionadas a surgências de água subterrânea, controladas por fraturas de origem tectônica.
Expressivas ocorrências de "pau ferro" entre Santiago e São Borja se manifestam em solos rasos pedregosos e diretamente em substrato rochoso de basalto,
Investigações realizadas pelos autores (Projeto Ibicuí, 1998) revelam que originalmente o ecossistema , que hoje se denomina campo, deveria ser de cobertura arbustiva, exceto uma faixa entre Uruguaiana e Itaqui, que corresponde a campo autêntico.
A trajetória do Rio Ibicuí corresponderia ao limite sul do que se denomina Floresta do Alto Uruguai.
Ocorrências de arenitos silicificados da Formação Botucatu, tais como o Cerro do Jarau, Palomas e Serra do Caverá, definem afloramentos rochosos silicosos e solos pedregosos com sérias limitações de nutrientes e disponibilidade hídrica, o que gera condições de vegetação rupestre. Raras e esparsas ocorrências florestais estão associadas a depressões e escarpas controladas por fraturamentos aqüíferos.
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Escarpa do Planalto Vulcânico

A região da escarpa do planalto vulcânico é configurada morfologicamente por uma sucessão de patamares e escarpas , resultantes da incidência de sucessivos derrames de lava vulcânica.
Os patamares correspondem a passagem de topo e base de derrames, cujas condições mineralógicas primárias revelam ocorrência de vidro vulcânico e baixo grau de cristalização dos minerais primários, com circulação e surgências de água subterrânea, que favoreceram processos pedogenéticos, resultando em solos profundos e de expressiva potencialidade em termos de macro e micronutrientes.
As escarpas resultam da posição central dos derrames, onde as condições termodinâmicas, devido ao esfriamento mais lento da lava, ocasionaram maior grau de cristalinidade dos minerais primários, que são mais resistentes ao intemperismo, resultando solos rasos pedregosos. Até a cota de 600 metros predominam os basaltos e acima dessa altitude predominam as rochas ácidas (andesitos, riolitos, riodacitos).
Todo o conjunto de litologias vulcânicas foi afetado por expressivos falhamentos geológicos, com movimentos basculantes, que influenciaram a incisão de vales profundos e os processos geomorfológicos que moldaram a atual paisagem.
O fator orográfico resultante da evolução geomorfológica constitui importanter barreira e zona de condensação das frentes frias provenientes do sul, consubstanciando elevadas precipitações pluviométricas.
Como resultado da coexistência de recursos hídricos associados ao solo e subsolo, aliados a disponibilidade hídrica climática, resultaram condições propícias para a formação de uma floresta com características subtropicais de grande porte. A composição florística é representada por espécies de origem atlântica e do alto uruguai.
As condicionantes ambientais, especialmente a persistência de disponibilidade hídrica climática, conferem a essa região condições muito favoráveis à regeneracão natural das florestas, o que pode ser comprovado pela enorme incidência de vegetação secundária (capoeira) em zonas agrícolas abandonadas.
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Planalto Vulcânico

Essa região fisiográfica corresponde aos domínios de rochas vulcânicas ácidas (andesitos, riolitos, riodacitos) acima da cota 600 metros, sendo que em altitudes inferiores ocorrem as rochas basálticas.
Na porção da metade oeste ocorrem arenitos intertrápicos, que se expressam, via de regra, sob a forma de solos arenosos profundos, bem drenados, muito suscetíveis à erosão, que por alguns geólogos foram considerados como depósitos pós-vulcânicos (Formação Tupanciretã). Nessas condições de meio físico de pedoclima com déficit hídrico se oferecem circunstâncias propícias a butiazais, a exemplo do que já foi mencionado para os arenitos da fronteira sudoeste.
Normalmente as rochas basálticas evidenciam solos mais profundos e com maior fertilidade natural do que os provenientes de rochas ácidas.
A evolução geomorfológica desse planalto, sofreu influências de eventos tectônicos que controlaram o desenvolvimento da rede de drenagem, com basculamento regional de blocos, com soerguimento preferencial no sentido leste, onde ocorrem altitudes superiores a 1.000 metros, o que gerou um planalto inclinado no sentido oeste, com altitudes da ordem de 600 metros.
A vegetação predominante é representada por campos limpos, com capões e ocorrências de manchas preferenciais de Araucaria, aparentemente nos domínios das rochas ácidas.
Os vales dos cursos d'água controlados por fraturamentos de origem tectônica, com significativa contribuição de água subterrânea ao longo de suas encostas, propiciam condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento de matas subtropicais.
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Escarpa Atlântica e Litoral Norte

A ocorrência de rochas vulcânicas, que podem atingir altitudes superiores a 1.000 metros, afetadas por eventos tectônicos de grande envergadura, controlam a presença de um expressiva escarpa com marcante contraste com os depósitos de sedimentos costeiros do litoral.
O terço inferior dessa escarpa evidencia a presença de arenitos da Formação Botucatú, sempre cobertos por rocha basáltica, constituindo o caso de Torres um testemunho da envergadura regional dos falhamentos que inlfuenciaram nos processos geomorfológicos.
Existe significativa contribuição de água subterrânea, a partir de áreas do planalto, que se manifestam nas lagoas costeiras, em função da presença de lineamentos tectônicos aqüíferos.
O meio físico condicionado pelas feições acima mencionadas proporciona a presença de uma floresta subtropical (Mata Atlântica), muito rica em biodiversidade que ocupa parte da planície sedimentar e se distribui de forma irregular ao longo da parte inferior da escarpa.
Na borda superior da escarpa se manifestam ocorrências de matas nebulares sob influência da baixas temperaturas e persistência de altíssimos teores de umidade na atmosfera e no solo.
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Litoral Sul
A ocorrência de sedimentos costeiros, essencialmente arenosos, configurando diversos terraços marinhos, onde os solos são melhores devido a presença de conchas calcárias e restos de ossos de peixes, entremeados com terraços continentais, cujos solos são de baixíssima fertilidade natural, complementados pela incidência de dunas, paleodunas, depósitos de turfa e solos orgânicos, definem as condições geológicas de uma paisagem típica do litoral sul.
As restritas ocorrências florestais no ambiente do litoral sul se limitam a ramificações da floresta atlântica, onde os anteparos dos cordões de dunas com relação aos ventos e a disponibilidade hídrica propiciam condições favoráveis ao estabelecimento matas lineares. Outras ocorrências florestais se posicionam sobre depósitos de turfa (antigos lagos colmatados).
Associados as paleodunas existiam butiazais (hoje quase extintos) constituindo uma mata baixa porem densa, cujos resquícios ainda se fazem presentes.
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