Segundo KAUL (1990), o Rio Grande do Sul
é constituído por terrenos rochosos cuja origem ou transformação recuam
aos mais diferentes períodos da história da crosta terrestre, trazendo
o registro de distintos eventos geodinâmicos. Do Arqueano Precoce aos
tempos cenozóicos, os processos magmáticos, metamórficos e sedimentares,
aliados aos movimentos tectônicos, foram engendrando uma crosta cada vez
mais diferenciada e mais estável, com predomínio, de modo geral crescente,
da atividade sedimentogênica sobre as atividades ígneo-metamórficas.
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Terrenos Pré-Cambrianos
Segundo KAUL (1990) o domínio dos Terrenos Pré-Cambriânicos caracteriza-se por abarcar uma grande diversidade de tipos de rochas, formadas desde os primórdios dos tempos geológicos, há cerca de 3 bilhões de anos atrás, até por volta de 500 milhões de anos. Trata-se de rochas ortometamórficas (rochas metamórficas de origem ígnea) e parametamórficas (rochas metamórficas de origem sedimentar) de alto, médio ou baixo grau de metamorfismo, de composição química muito diversificada, rochas ígneas granitóides componentes de inúmeras instruções, além de pouco freqüentes seqüências de cobertura de natureza vulcanossedimentar. Esse domínio pode ser subdividido em cratons (porções de um continente, estáveis por longos períodos de tempo em relação a cinturões móveis adjacentes) e cinturões móveis (províncias orogênicas lineares ou curvilíneas de extensão regional): a) Craton Rio de La Plata, correspondente à região ocidental do Planalto Sul-Rio-Grandense; b) Cinturão Móvel Dom Feliciano, que corresponde à porção oriental deste planalto. O domínio da Bacia do Paraná é o mais amplo domínio geológico do Sul do Brasil, pertencente à grande estrutura, de dimensões continentais, extensiva a outros países, implantada em terrenos pré-cambriânicos a partir do Siluriano Inferior. Pode ser subdividido em duas porções ou áreas: a das formações sedimentares, acumuladas desde tal período geológico até o Triássico, e a dos colossais derrames de lavas, de composição predominantemente básica, que cobriam as referidas formações a partir do Jurássico Superior.O domínio da Cobertura de Sedimentos Cenozóicos corresponde aos sedimentos de idade predominantemente holocênica, que se concentraram em diferentes áreas do Estado, notadamente na área costeira. O Craton Rio de La Plata corresponde à
porção ocidental do Planalto Sul-Rio-Grandense, que se estendo por sob
a cobertura sedimentar gonduânica da Bacia do Paraná, ao Uruguai e à Argentina
(Almeida et al. e Fragoso Cezar apud KAUL, 1990). A sul,
a oeste e a norte, esse craton está coberto por camadas sedimentares;
a leste, limita-se geralmente através de falhas, com Coberturas Molassóides
coberturas vulcanossedimentares, resultantes da erosão de cadeias de montanhas)
Eopaleozóica. Pode-se reconhecer, nessa unidade geotectônica, terrenos
gnáissico-graníticos e cinturões vulcanossedimentares. Os primeiros são
constituídos por rochas formadas no Proterozóico Inferior, há cerca de
dois bilhões de anos, por processos magmáticos. Nessa mesma fase evolutiva
da crosta, tais rochas adquiriram características metamórficas. Essas
rochas podem ser divididas em graníticas, migmatíticas e granulíticas.
Os Cinturões Vulcanossedimentares são constituídos por rochas supracristais
(sobre embasamento antigo) que são as rochas orto e parametamórficas.
Segundo Fragoso César apud KAUL (1990), o Cinturão Móvel Dom Feliciano
corresponde aos terrenos pré-cambriânicos mais orientais do Planalto Sul-Rio-Grandense,
que se prolongam ao Uruguai. Trata-se de unidade lito-estrutural de primeira
grandeza, que se originou da regeneração Brasiliana atuante na porção
sudeste da Plataforma Sul-Americana. Constituem complexos metamórfico-migmatítico-graníticos
distribuídos em duas bandas concordantes, designada de Flanco Ocidental
e Zona Central. O Flanco Ocidental corresponde a uma faixa de largura
variável, que conjugam, tectonicamente, um embasamento antigo, Pré-Brasiliano,
e seqüências orogênicas. O embasamento é formado por migmatitos e ganaisses
bastomiloníticos, enquanto as seqüências orogênicas constituem em espessos
pacotes de cochas parametamórficas de baixo grau entremeadas com metavulcânicas
básicas, ácidas e intermediaria. A Zona Central consiste numa faixa linear
composta por rochas gnáissicas, magmáticas e graníticas, a que se associam
anfibolitos, blastomilonitos, quartzitos, xistos e mármores.
O domínio da Bacia do Paraná engloba, no
Rio Grande do Sul, as Efusivas Ácidas e Básicas e a Cobertura Sedimentar
Gonduânica. Segundo KAUL (1990) a Cobertura Sedimentar Gonduânica, implantada
na Bacia do Paraná, nos tempos do Siluriano Inferior, marcou o início
de uma nova sedimentogênese. Nessa bacia formam-se, a partir daquele período,
até o Jurássico, extensas e espessas seqüências de sedimentos de granulação
essencialmente fina, com intercalações de calcários e raríssimos conglomerados.
Essas seqüências integram, no Estado, as Formações Sedimentares Rosário
do Sul e Botucatu, cada uma correspondendo a determinado ambiente ou ambientes
de deposição. A Formação Rosário do Sul reúne arenitos de granulação média
a fina, siltitos argilosos e lamitos, que mostram colorações vermelha,
castanha-avermelhada, cinza-avermelhado e branca. Os arenitos são mal
selecionados, exibindo estratos descontínuos, lenticulares, com estratificação
cruzada acanalada e tangencial. O ambiente de deposição é fluvial, localmente
lacustre. Idade referente ao Triássico. A Formação Botucatu é constituída
por arenitos de granulação fina a média, de coloração vermelha, rósea
ou amarelo-clara, bem selecionados maturos, apenas localmente feldspáticos.
Como estrutura característica desses arenitos, ocorre estratificação cruzada
tangencial de grande porte. Ambiente de deposição: desértico (material
depositado por ação eólica). Idade referente ao Jurássico. As Formações
Rosário do Sul, Botucatu e Serra Geral (esta, produto de vulcanismo básico
e ácido) compõem o Grupo São Bento. Segundo Horbach et al. e Kaul
et al. apud KAUL (1990), o vulcanismo fissural da Bacia do Paraná
(Derrames Vulcânicos Juracretácicos e Manifestações Associadas) representa
uma das maiores manifestações de vulcanismo continental do globo. Está
representado por espessos e extensos derrames de lavas, bem como por dique
e soleiras, com pequenos e eventuais corpos de rochas sedimentares associados.
Tal conjunto de litologias constitui a Formação Serra Geral, aqui dividida
em duas porções: a Seqüência Básica e a Seqüências Ácida. A Seqüência
Básica da Formação Serra Geral, que predomina grandemente em área e volume
sobre a ácida, compreende derrames de basalto, andesito e basalto com
vidro, além de brechas vulcânicas e sedimentares, diques e soleiras de
diabásio e corpos de arenitos interderrames. Essa seqüência originou-se,
fundamentalmente, de um magma básico de filiação toleiítica, gerado no
Manto Superior. Os arenitos interderrames, sob a forma de camadas descontínuas
de arenitos eólicos, mais raramente fluviais, representam a persistência,
à época Serra Geral, de condições desérticas semelhantes àquelas que perduravam
por ocasião da deposição da Formação Botucatu. A Seqüência Ácida da Formação
Serra Geral, que corresponde a áreas de relevo menos dissecado e menos
arrasado, compreende derrames de dacitos pórfiros, dacitos felsíticos,
riolitos felsíticos, riodacitos felsíticos, basaltos pórfiros e fenobasaltos
vítreos. A Formação Serra geral tem idade de aproximadamente 110 a 160
milhões de anos, indicando que essa formação se originou em tempos juracretácicos.
Cobertura Sedimentar Cenozóica Segundo Holbach et al. e Kaul et al. apud KAUL (1990) a Cobertura Sedimentar Cenozóica engloba diferentes tipos de depósitos sedimentares, em geral individualizados como formação nos mapas geológicos, com idade variando de terciária a holocênica: Formação Tupanciretã e Santa Tecla, do Terciário; Formação Graxaim, do Terciário-Quaternário; Formação Chuí e Itapuã, do Pleistoceno; Depósitos Sedimentares, do Holoceno. A Formação Tupanciretã foi, por muito tempo, considerada como correspondendo a "janelas" da Formação Botucatu em meio aos derrames vulcânicos da Formação Serra Geral, hoje pós-Serra Geral. Restrita ao Estado do Rio Grande do Sul, ela se estende, sem continuidade física, por grande parte do Planalto das Araucárias, nos municípios de Cruz Alta, Santa Bárbara do Sul, Carazinho e Passo Fundo, bom como em Santiago. É composto por arenitos, arenitos conglomeráticos, conglomerados e finas camadas de argilas, sedimentos cuja origem tem sido bastante discutida, possivelmente é material dentrítico, deposição em ambiente fluvio-lacustre. A Formação Santa Tecla restringe-se também ao Estado, onde cobre terrenos pré-cambriânicos e formações sedimentares gonduânicas. Sua maior ocorrência é a norte da cidade de Bagé, prolongando-se daí para leste, até as proximidades da cabeceira do arroio das Palmas, bem como em Torquato Severo, a leste de Estação Ibaré, a sul do arroio Torrinhas, a leste do arroio do Tigre, a norte de Hulha Negra. Arenitos e conglomerados constituem essa unidade litoestratigráfica, em que a estratificação está ausente ou é pouco evidente, devido a processos secundários. Seu ambiente de sedimentação foi subaquoso, provavelmente lacustre, sob clima árido ou semi-árido. Sua idade é, supostamente, terciária. A Formação Graxaim ocorre à oeste da Lagoa dos Patos, na Planície Gaúcha, entre Arroio Grande e Guaíba, bem como em Pedro Osório, Pelotas, São Lourenço do Sul, Camaquã, Tapes e Barra do Ribeiro. Compõem-na arenitos arcoseanos, com fáceis síltico-argilosa e arenoconglomerática, fracamente consolidados, que têm sido interpretados como depósitos de leques aluviais. Sua deposição iniciou-se no Mioceno Superior, ou no Plioceno, e estendeu-se até o Pleistoceno Superior. A Formação Chuí apresenta ampla distribuição na Planície Gaúcha, ao longo das Lagoas Mirim e dos Patos, com maior expressão na restinga que separa tais lagoas do oceano. As exposições desses sedimentos encontram-se nos Municípios de Chuí, Santa Vitória do Palmar, Arroio Grande, Pelotas, Rio Grande, São Lourenço do Sul, Camaquã, Tapes, São José do Norte, Mostardas, Palmares do Sul, Osório e Torres. Compõem essa unidade litoestratigráfica areias quartzosas médias a finas, bem selecionadas, pouco síltico-argilosas, algo ferruginosas, e areias quartzos síltico-argilosas com marcante laminação plano-paralela. Tais depósitos são fossilíferos, incluindo pelecípodes, invertebrados dos gêneros Balanus e Ostrea, tubos de vermes, restos vegetais e mamíferos gigantes. Sua deposição deu-se em ambientes marinho de águas rasas e lacustre, durante o Pleistoceno Superior. A Formação Itapoã ocorre no Estado entre as cidades de Pelotas e Rio Grande, sob a forma de ocorrências esparsas entre São José do Norte e Torres, e como uma faixa alongada na direção nordeste-sudoeste entre Itapoá e Santa Antônio da Patrulha bem como entre Tapes e Barra do Ribeiro e entre Chuí e Pelotas. Os sedimentos que a compõem são areias quartzosas de granulação fina e média, afossilíferas, com cimento ferruginoso e raras estruturas primárias, tais como: estratificação plano-paralela e cruzada. De origem eólica, esse material dendrítico foi depositado entre o Pleistoceno Inferior e o Holoceno Inferior. Os Depósitos Sedimentares do Holoceno
são bastante diversificados tendo, como área predominante de ocorrência
o Estado do Rio Grande do Sul. São depósitos fluviais, marinhos, lagunares,
eólicos e coluviais. Os sedimentos aluviais ocupam as calhas dos rios
atuais, sendo constituídos por areias, cascalhos, silte e argilas. Os
sedimentos marinhos são aqueles das praias e dos cordões litorâneos: os
depósitos praiais são formados por areia fina bem relacionada, localmente,
com a concentração de materiais pesados (monazita, ilmenita, magnetita,
etc.); os cordões litorâneos são constituídos por areias quartzosas e,
em menor proporção, silte a argilas, abrigando, por vezes, sambaquis e
concheiros naturais. Os sedimentos lagunares congregam areias, silte,
argilas e turfas, em parte oriundas da carga fluvial que alimenta as lagoas
costeiras e, em parte, provenientes do retrabalhamento de sedimentos litorâneos
mais antigos e, mesmo, da progressiva colmatação das lagoas. Os sedimentos
eólicos integram as dunas e cômodos, consistindo em areias quartzosas
de granulação fina a média. Os sedimentos coluviais são depósitos de base
de encosta, formados por areias, cascalho fino e grosso, e matacões. |