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VEGETAÇÃO

A descrição da vegetação do Estado do Rio Grande do Sul, aqui apresentada, está baseada no trabalho desenvolvido pelo Projeto RADAMBRASIL, atualmente incorporado ao IBGE.

Segundo LEITE & KLEIN (1990) este trabalho permitiu a uniformização de critérios, conceitos e métodos de levantamento florístico-vegetacional. Assegurou maior eficiência na interpretação do papel desempenhado pelos principais parâmetros ecológicos no arranjo, distribuição espacial e comportamento geral da flora e formas de vida vegetal. Deste trabalho resultou a criação de um sistema de classificação fisionômico-ecológico muito mais preciso para toda a vegetação brasileira, adaptado a conceitos fitogeográficos internacionais.

Segundo esse sistema, a vegetação do Rio Grande do Sul é classificada em florestal e não-florestal. Considera-se vegetação florestal aquela, ombrófila ou estacional, cujas formações são constituídas por comunidades arbóreas mais ou menos estáveis e compatíveis com o clima atual. São consideradas vegetação não-florestal todos os demais tipos de formações, que por diversas causas não alcançaram os níveis de desenvolvimento e organização tidos como em equilíbrio com o clima. Trata-se de vegetação xeromorfa e xerofítica e das formações pioneiras.

Para os autores acima mencionados, a vegetação do Estado do Rio Grande do Sul compreende nove regiões fitoecológicas ou fitogeográficas (mapa fitogeográfico). Foi incluído, também, por tratar-se de formação típica no Estado, a vegetação do Parque do Espinilho:

  1. Região da Floresta Ombrófila Mista (Floresta de Araucária);
  2. Região da Savana (Cerrado e Campo);
  3. Região da Estepe (Campanha Gaúcha);
  4. Região da Savana Estépica (Campanha Gaúcha);

RAMBO (1956) divide o Estado do Rio Grande do Sul em duas formações vegetais, a do campo e a da floresta. Da área total do Estado, cerca de 131.896 km² (46,26%) eram campos, 98,327 km² (34,47%) matas e o restante, atribuído à vegetação litorânea, banhados inundáveis e outras formações. Portanto, dois terços da área do Estado foram originalmente ocupados pela formação campestre, uma paisagem de estepe, isto é, formação semi-xerofítica, porém num ambiente de clima característico por umidade alta.
Para o mesmo autor, as variações climáticas das diversas partes do Estado não são suficientes para explicar a presença dessas duas formações, uma vez que a formação climática conveniente no Estado do Rio Grande do Sul é a da Floresta Alta Subtropical. Os campos são formações climáticas e edáficas na sua origem e relitos históricos ou manchas no tempo atual.
Segundo JARENKOW (1994), outras formações ou subformações florestais, de maior ou menor importância, podem ainda ocorrer no Estado, no interior das diferentes regiões fitogeográficas, como Matas de Restinga, Matas Insulares, Matas de Galeria, entre outras.
Para o autor a distribuição atual das formações vegetais do sul do Brasil resulta de um processo histórico, cujo entendimento remete a abordagens multidisciplinares, em diferentes momentos de sua evolução, principalmente aqueles ocorridos a partir do final do Terciário.

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Tipos Fitogeográficos

Floresta Ombrófila Densa Floresta Ombrófila Mista Floresta Ombrófila Mista Floresta Estacional Semidecidual Floresta Estacional Semidecidual Floresta Estacional Decidual Floresta Estacional Decidual Formações Pioneiras Região da Savana Região da Savana Região da Savana Região da Savana Região da Savana Áreas de Tensão Ecológica Áreas de Tensão Ecológica Áreas de Tensão Ecoógica Áreas de Tensão Ecológica Região da Savana Estépica Região da Savana Estépica Região da Savana Estépica Região da Estepe Região da Estepe Parque do Espinilho Região da Estepe
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Região da Floresta Ombrófila Densa

No Brasil a Floresta Ombrófila Densa ocorre nas encostas orientais da Serra do Mar, da Serra Geral e Vales da região Leste do Planalto, em altitudes desde as planícies quaternárias, quase ao nível do mar, até 1000 metros, junto à borda do Planalto. No Rio Grande do Sul ocorre desde o litoral norte nas proximidades de Osório, até os altos da Serra, sendo os últimos representantes na encosta oriental íngreme (BRASIL, 1983).
Segundo LEITE & KLEIN (1990) esta Região Florestal tem recebido diversas denominações desde que Martius, na primeira metade do século passado, a definiu como "Série Dryades". Entre as designações mais comuns destacam-se: Floresta Perenifólia Atlântida e Mata Pluvial Tropical. A designação Floresta Ombrófila Densa é de Ellenberg e Mueller-Dombois (1965/6). Trata-se de uma classe de formação que embora esteja em zona extratropical e, por isto mesmo, desfalcada de algumas espécies típicas e provida de endemismos, tem características nitidamente tropicais, sendo um prolongamento da faixa florestal que acompanha a costa brasileira desde o Estado do Rio Grande do Norte.
Para os mesmos autores a Floresta Ombrófila Densa na sua maior parte caracterizava-se por estratos superiores com grandes árvores perenifoliadas de alturas entre 25 e 30 m. Sua penetração até Torres e Osório, resultou fundamentalmente da ausência, em toda esta faixa costeira, de um período biologicamente seco e de ocorrência de médias térmicas em geral superiores a 15ºC. Convém salientar que, nas baixadas da porção setentrional da região, registram-se mais de seis meses ao ano com médias térmicas iguais ou superiores a 20ºC. As elevações costeiras funcionam como agente ascensional das massas de ar carregadas de umidade. Estas, condensando-se e precipitando-se em copiosas chuvas mantêm elevada a umidade relativa do ar, durante todo o ano.
A diversificação ambiental resultante da interação de múltiplos fatores é um importante aspecto desta região fitoecológica, com ponderável influência sobre a dispersão e crescimento da flora e da fauna. Permite o desenvolvimento de várias formações, cada uma com inúmeras comunidades e associações, constituindo complexa e exuberante coleção de formas biológicas. Equivale a dizer que a Floresta Ombrófila Densa é a classe de formação mais pujante, heterogênea e complexa do Sul do País, de grande força vegetativa, capaz de produzir naturalmente, de curto a médio prazos, grandes volumes de biomassa.
Os ambientes mais expressivos desta região encontram-se entre aproximadamente 30 e 1000 m de altitude e compreende as formações submontanas. Neles, a floresta apresentava os limites máximos de complexidade e esplendor permitidos pelos parâmetros ecológicos. Uma multidão de indivíduos de grande variedade de espécies macro, meso, micro e nanofanerófitas dipunham-se sobre diversas feições geomorfológicas num harmonioso conjunto de formas de vida, ricamente enfeitada por grande variedade de epífitas e lianas (LEITE & KLEIN, 1990).
Klein apud LEITE & KLEIN (1990) menciona a importância fisionômica de epífitas e das lianas e ressalta a dominância das bromeliáceas (Vrisea vagans, Vrisea altodasserrae, Aechnea cylindrata, Aechnea caudata e Nidularium innocentii), das cactáceas (Rhipsalis haulletiana, Rhipsalis elliptica e Rhipsalis pachyptera) e das orquídeas (Cattleya intermedia, Epidendrum elliptcum, Oncidium longipes, Pleurothallis grobii e Laelia purpurata). Dentre as lianas, tem-se o cipó-buta (Abuta selloana), cipó-pau (Clytostoma scuiripabuluem), unha-de-gato (Doxantha unguis cati), cipó-escada-de-macaco (Bauhinia microstachya) e cipó-cravo (Cynnanthus elegans) e dentre as aráceas destacam-se os gêneros Philodendron e Anthurium. Deve ser salientada a ocorrência de pteridófitas terrestres herbáceas, principalmente, aspidiáceas e polipodiáceas e, sobretudo, pteridófitas arborescentes das ciateáceas (Cyathea, Nephaelea e Alsophila), que podem formar densos agrupamentos nos ambientes úmidos da floresta.
A Floresta Atlântica caracteriza-se por ser uma floresta latifoliada intimamente relacionada com os índices termo-pluviométricos mais elevados da zona litorânea, apresentando três estratos definidos (SUDESUL, 1978): o estrato superior, formado pelas espécies dominantes de 25 a 35 metros de altura, ou mais, como a canela-preta (Ocotea catharinensis), sapopema (Sloanea monosperma), guamirim-chorão (Calyptranthes grandifolia), canela-fogo (Cryptocarya moschata), tanheiro (Alchornea triplinervia), figueira-branca (Ficus organensis), guapuruvu (Schizolobium parayba) e angico (Parapiptadenia rigida); a submata, formada de arvoretas até 9 metros de altura, em que domina o palmito (Euterpe edulis) e o guamirim-de-folhas-miúdas (Myrceugenia myrcioides) e outras; o estrato arbustivo com cerca de 3 metros de altura, formado por inúmeras espécies entre as quais se encontram a palmeira-gemiova (Geonoma gamiova), o feto arborescente xaxim (Dicksonia sellowiana) e a samambaia-assu (Hemitelia setosa).
Para LEITE & KLEIN (1990) são importantes os ambientes conhecidos como altomontanos, sujeitos aos efeitos de um clima tido como "de altitudes", por compreenderem os terrenos mais elevados da região, nas altitudes superiores a 1.000 m. São ambientes constantemente saturados de umidade, onde as médias térmicas podem descer a índices inferiores à 15ºC. Neles se desenvolveu a chamada mata nebular ou floresta nuvígena, vegetação arbórea densa baixa, de dossel uniforme, normalmente com indivíduos tortuosos, abundantemente ramificados e nanofoliados revestidos de epífitas, musgos, hepáticos, etc. Os agrupamentos florestais, em geral, apresentam significativa dominância de mirtáceas e aquifoliáceas, sendo, no entanto, praticamente desprovidos de aráceas, bromeliáceas e orquidáceas, caracterizando-se principalmente pelas espécies: gramimunha-miúda (Weinmannia humilis), cambuí (Siphoneugena reitzii), guaperê (Clethra scabra), quaresmeira (Tibouchina sellowiana), jabuticaba-do-campo (Eugenia pluriflora), guamirim (Eugenia obtecta), congonha (Ilex theezans) e caúna (Ilex microdonta), além de outras. Intercalados a esta mata nebular encontram-se campos litólicos de altitude (refúgios), em terrenos movimentados, com solos muito rasos, povoados de blocos rochosos e ocupados por vegetação gramíneo-lenhosa pontilhada de pequenos capões e, às vezes, de diminutas turfeiras. Nestes locais são comuns touceiras de carás, caratuvas (Chusquea sp.) e de taquara-lisa (Merostachys multiramea) que, ao lado de outras gramíneas silvestres como Panicum glutinosum, predominam na composição dos estratos herbáceos.
Para os mesmos autores a vocação natural da região, seguramente, não é a agricultura. Os seus terrenos, em grande parte movimentados, são inadequados às práticas agrícolas convencionais e geralmente classificados como de preservação permanente pelo código florestal. As planícies, ao natural, também são pouco apropriadas ao uso agrícola. Apesar destas evidências, a região foi submetida a um intenso processo de antropização da cobertura florestal. Retiram-se dela, por métodos extrativistas rudimentares e predatórios, madeira, palmito, plantas ornamentais, aves, peixes, pequenos animais, etc. Há também intervenção irreversível caracterizada por corte raso e limpeza do solo para agricultura, num processo clandestino e criminoso de subtração de áreas lindeiras aos parques e reservas legais.
A vocação regional, não poderia ser outra, senão a predominantemente florestal, as culturas permanentes ou as pastagens com espécies rizomatosas, pressupondo-se, nesta, o aproveitamento racional e o manejo adequado dos recursos naturais, buscando assegurar o rendimento sustentado e o equilíbrio ecológico, que redundam em maiores benefícios sociais das terras, com um mínimo de problemas ambientais. A proximidade do mar e dos portos por onde a região poderia manter um programa permanente de exportação de madeira, palmito e outros produtos e subprodutos silviculturais industrializados ou não reforça a idéia da vocação regional para a silvicultura (LEITE & KLEIN, 1990).
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Região da Floresta Ombrófila Mista

REITZ & KLEIN (1966) afirmam que a distribuição dos pinheirais no Rio Grande do Sul é essencialmente uma função de acidentação do terreno. Os pinhais mais densos e expressivos, principalmente nos vales, na aba superior de todos os canhões profundos dos rios, bem como nos terrenos acidentados dos campos, sobretudo do planalto central e oriental.
Segundo RAMBO (1956), o pinheiro ocorre em toda a borda superior livre do planalto, a começar do norte de Santa Maria até o extremo nordeste; nos vales superiores e nas cabeceiras dos Rios Caí, Taquari, das Antas, Jacuí e Pelotas; em grupos isolados ou densos sociedades, nos capões disseminados por todo o planalto; em indivíduos solitários em pleno campo como se observa a leste de Cruz Alta; em mistura com a floresta virgem do Alto Uruguai, ao norte de Passo Fundo e Lagoa Vermelha.
O mesmo autor afirma que o pinheiro é exclusivo do planalto, ocorrendo em altitudes entre 500 m a Oeste e 1000 m ao Leste. Nunca desce, a não ser em manchas ocasionais. Diferencia-se três núcleos principais do pinheiral: na aba do setor meridional da escarpa, entre os Rios Taquari e o Rio dos Sinos; na borda dos Aparados entre o Rio Maquiné e o Rio das Antas; e em pleno planalto central, no curso superior do Rio Jacuí ao sul de Passo Fundo.
A estrutura dos pinheirais, próximo dos Aparados da Serra, não levando em conta a vegetação baixa, consta de dois andares: o inferior, de árvores de meia altura e umas mais altas; e o andar superior é constituído pelas Araucárias. O andar inferior de árvores baixas ou arbustos arborescentes, pertencente em grande parte às mirtáceas, sendo comum também o Schinus spinosus (Aroeira) - atualmente classificado como Schinus polygamus, Drimys brasiliensis (casca-d'anta), Berberis laurina (japecanga ou salsaparrilha), e uma série de epífitas, orquídeas, musgos e liquens. O andar superior é dominado pela Araucaria angustifolia (pinheiro-brasileiro), que dá a paisagem uma fisionomia própria (RAMBO, 1956).
Na beira meridional do planalto, desde o vale do Taquari até as nascentes do rio dos Sinos, o aspecto dos pinheirais sofre algumas mudanças. É que a rica flora da Fralda da Serra forma o primeiro andar da floresta, muito mais alto e viçoso do que na Borda dos Aparados. As araucárias surgem com mesma altura (RAMBO, 1956).
Na bacia superior do Jacuí, ao sul de Carazinho e Passo Fundo, além do caráter típico semelhante aos Aparados, é comum capão e mata de anteparo, coroado de pinheiro, no meio de grandes proporções de campo sujo. Ao oeste na direção de Cruz Alta, os últimos exemplares geralmente pouco desenvolvidos se perdem no campo e, ao norte, há grandes núcleos de araucárias misturadas com a floresta uruguaia (RAMBO, 1956).
Segundo LEITE & KLEIN (1990) a concepção de Floresta Ombrófila Mista procede da ocorrência da mistura de floras de diferentes origens, definindo padrões fitofisionômicos típicos em zona climática pluvial. A área onde a coexistência de representantes da flora tropical (afro-brasileira) e temperada (austro-brasileira) com marcada relevância fisionômica de elementos Coniferales e Laurales é denominado Planalto Meridional Brasileiro, área de dispersão natural do pinheiro-brasileiro ou do pinheiro-do-paraná, a Araucaria angustifolia ou "curiirama" dos indígenas, espécie gregária de alto valor econômico e paisagístico.
Estudos fitossociológicos efetuados anteriormente à avassaladora eliminação das florestas do Sul do País revelaram que a flora de origem australásica (Composta de Araucaria, Podocarpus, Drimys, etc.) encontrava, no clima atual, condições favoráveis ao seu desenvolvimento nas altitudes superiores a 500 / 600 m, em todas as situações não diretamente afetadas pela influência marítima.
A denominada tropicalização do clima (mudança de mais frio / seco para mais quente / úmido) demonstra processar-se das baixas para as elevadas latitudes e altitudes e da costa para o interior do continente, dinamizando os processos naturais de substituição da flora de origem australásica pela origem tropical (afro-brasileira). A substituição demonstra vir ocorrendo, basicamente, em função da lei natural de seleção expressa na concorrência pela ocupação do espaço, em conjugação com o fenômeno da heliofilia. As condições mais quentes / úmidas dos vales e baixadas ou das áreas planálticas, sob ponderável influência marítima, devem ter favorecido a expansão e desenvolvimento de elevado contingente florístico tropical que, dominando as formações dos ambientes outrora tipicamente temperados, lhes densificaram a cobertura, restringindo-lhes principalmente, a incidência luminosa, sufocando-lhes o natural ímpeto multiplicativo perpetuador das espécies, numa marcante superioridade de adaptações às condições ambientais atuais (LEITE & KLEIN, 1990).
Deve-se observar que a lei natural que rege os fenômenos da sociedade vegetal e, conseqüentemente, da substituição das floras, ao longo do tempo, em dado ambiente, resulta da atuação concomitante de fatores que lhe são intrínsecas. Em razão disto, os encraves e as disjunções de comunidades de origem temperada estão geralmente associadas a ambientes com alguma deficiência litopedológica. É isto que se tem observado no contato de regiões fitogeográficas. Na faixa de contato com as regiões florestais a diagnose do fenômeno "substituição florística" é determinada principalmente pela quebra do ciclo normal de desenvolvimento de pinheiro-do-paraná e das espécies andinas. Nela resta apenas a araucária e em estado senil (faltando indivíduos jovens e adultos), numa categórica e já avançada fase de substituição pela flora de origem tropical (LEITE & KLEIN, 1990).
Segundo os mesmos autores, quando se efetuam estudos florísticos mais profundos desta região visando sua compartimentação, defronta-se novamente com o referido fenômeno da substituição florística. Nas altitudes, em geral inferiores a 800 m (extensas superfícies), retrata-se um estágio de substituição intensa, onde, em geral , a araucária não mantém intacto o seu ciclo natural de desenvolvimento, e constitui o único representante da flora de origem temperada. Todo o contingente florístico companheiro compõe-se de espécies características das regiões vizinhas (Florestas Estacionais e Ombrófila Densa).
Do ponto de vista florístico, poder-se-ia identificar, no Rio Grande do Sul, nas superfícies abaixo dos 800 m dois grupos de comunidades com araucária: o primeiro compreende os terrenos periféricos da região da Floresta Estacional Decidual, onde a araucária estava consorciada ao angico-vermelho (Paraptadenia rigida) e a grápia (Apuleia leiocarpa), ambas espécies constituindo cerca de 70 a 80% do estrato imediatamente inferior ao do pinheiro; o segundo abrange os terrenos circunvizinhos à região da Floresta Ombrófila Densa. Nele, a araucária ocorria em comum com a canela-sassafrás (Ocotea pretiosa - atualmente Ocotea odorifera), a canela-preta (Ocotea catharinensis), pau-óleo (Copaifera trapezifolia) e a peroba-vermelha (Aspidosperma olivaceum), folhosas que compunham entre 60 e 70% do estrato superior da floresta (LEITE & KLEIN, 1990).
A araucária e outros elementos de origem temperada, em face as suas características heliófilas, encontram-se hoje desfavorecidos, não só pela intervenção destruidora do homem mas pela incompatibilidade com o clima atual (Klein, 1960 apud LEITE & KLEIN, 1990).
Os terrenos entre aproximadamente, os 500 e os 800 m de altitude estão enquadrados na formação montana (Leite e Sohn, apud LEITE & KLEIN, 1990) e caracterizam-se por um clima sem época seca, com período frio (Temperatura média Tm = 15º C) curto ou ausente e período quente longo (Tm = 20º C). A área mais típica e representativa da Floresta Ombrófila Mista é aquela das altitudes superiores aos 800 m, principalmente dos terrenos altomontanos. Seu clima é o mais frio da região e com maiores índices de geadas noturnas. Caracteriza-se pela ausência de período seco e ocorrência de longo período frio (Tm = 15º C). O período quente anual (Tm = 20º C) é geralmente curto ou ausente.
Sob estas condições climáticas e de acordo com a diversificação de outros parâmetros ambientais, poder-se-ia determinar, na área típica da Floresta Ombrófila Mista, dois grupos distintos de comunidades com araucária e lauráceas: um, onde o pinheiro se distribuía de forma esparsa por sobre bosque contínuo no qual 70 a 90% das árvores pertenciam às espécies: imbuia (Ocotea porosa), espécie mais representativa, canela-amarela (Nectandra lanceolata), canela-preta (Nectandra magapotamica), canela-fogo ou canela-pururuca (Cryptocarya aschersoniana) acompanhadas da sapopema (Sloanea monosperma), por vezes bastante freqüente, da guabirobeira (Campomanesia xanthocarpa) e erva-mate (Ilex paraguariensis); outro grupo, onde a araucária formava um estrato de 60 a 80% de folhosas, principalmente das espécies: canela-lageana (Ocotea pulchella), espécie dominante, canela-amarela (Nectandra lanceolata), canela-guaicá (Ocotea puberula), canela-fedida (Nectandra grandiflora), comboatá-vermelho (Cupania vernalis) e comboatá-branco (Matayba eleagnoides), acompanhadas de casca-d'anta (Drimys brasiliensis), pimenteira (Capsicodendron dinisii), guabirobeira (Campomanesia xanthocarpa) e diversas mirtáceas e aquifoliáceas. Acompanhando planícies sedimentares recentes dispersas em diferentes altitudes e latitudes e sujeitas a periódicas inundações, ocorre um tipo de formação definida como Aluvial. Nelas o pinheiro-do-paraná geralmente consorcia-se com branquilho (Sebastiana commersoniana), jerivá (Syagrus romanzoffiana), murta (Blepharocalyx salicifolius), corticeira-do-brejo (Erythrina cristagalli), tarumã (Vitex megapotamica), açoita-cavalo (Luehea divaricata), salgueiro (Salix humboldtiana), além de aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolius) e diversas espécies de mirtáceas (LEITE & KLEIN, 1990).
No clima atual, a Floresta Ombrófila Mista teve condições de estender-se pelos três Estados do Sul do País, numa superfície de aproximadamente 175000 km², ocupando os mais diferentes tipos de relevos, de solos e de litologias, geralmente em latitudes maiores que 23º, altitudes superiores a 500 m e em situações afastadas das influências marítimas. A Floresta Ombrófila Mista, conforme Leite & Sohn e Teixeira e Coura Neto apud LEITE & KLEIN (1990), está hoje reduzida a pouco mais de 10% (20.000 km²) da sua área original, testemunhas relictuais antropizadas da magnífica e pujante floresta das araucárias. Os cerca de 90% (155.000 Km²) integram a área de produção de alimento, principalmente grãos e, juntamente com áreas das regiões florestais estacionais e grande parte das áreas de Savana Gramíneo-Lenhosa, constituem um dos mais importantes celeiros do País. Não obstante isto, a região das araucárias, no seu conjunto, não possui os melhores solos agrícolas do Sul do País. Seus solos de melhor qualidade, e intensamente utilizados, são aqueles de relevo suave, derivados do basalto, geralmente situados abaixo dos 800 m de altitude. Neles geralmente não ocorrem relictos florestais nem há áreas abandonadas à proliferação da vegetação secundária; pratica-se o rodízio trigo / soja / trigo com intercalação, principalmente, de milho.
Dentre as espécies mais comuns nos povoamentos secundários destacam-se: a bracatinga (Mimosa scabrella), a canela-guaicá (Ocotea puberula), o vassourão-branco (Pipthocarpha angustifolia), o angico-branco (Anadenanthera columbrina), o vassourão-preto (Vernonia discolor), café-do-mato (Casearia sylvestris), vassouras (Baccharis spp.) e samambaias-das-taperas (Pteriudium aquilinum) (LEITE & KLEIN, 1990).
De acordo com SUDESUL (1978), as espécies da submata componentes da Floresta da Araucária, mais comumente encontradas são: casca-d'anta (Drimys brasiliensis), erva-mate (Ilex paraguariensis), caúna (Ilex dumosa), guamirim (Myrcia bombycina), aroeiras (Schinus spp.), bugreiro (Lithraea brasiliensis), branquilho (Sebastiania commersoniana), fumo-bravo (Solanum erianthum ou Solanum mauritianum), mamica-de-cadela (Zanthoxylum rhoifolium), pessegueiro-bravo (Prunus sellowii ou Prunus myrtifolia), cambuí (Myrceugenia sp.), carvalho-brasileiro (Roupala spp.), canela-lageana (Ocotea pulchella), camboatá (Matayba elaeagnoides), guaçatunga (Casearia decandra), guabiroba (Campomanesia xanthocarpa), pitangueira (Eugenia uniflora), açoita-cavalo (Luehea divaricata), cambará (Gochnatia polymorpha), uvaia (Eugenia pyriformis), cedro (Cedrela fissilis), canelas (Nectandra spp. e Ocotea spp.), angico (Parapiptadenia rigida) e batinga (Eugenia rostrifolia).
Na região de Floresta Ombrófila Mista é comum a ocorrência de campos. Nestes se verifica grande ocorrência de capões e bosques, muitas vezes com a presença de Araucaria angustifolia, denotando o lento processo de invasão das florestas nas áreas de campo. Muito comum nestes campos é a ocorrência de araucária isoladas junto aos capões (SUDESUL, 1978).
Segundo RAMBO (1956), a zona máxima de desenvolvimento dos campos, em união com fartas faixas de galerias, é a borda do planalto sul. Na composição dos capões encontram-se as espécies comuns da mata virgem, mas em número e volume restrito. Entre o rio Piratini e Ijuí, onde os capões revestem cerca da metade da superfície, aparecem as canafístulas (Peltophorum dubium), louros (Cordia trichotoma), cedro (Cedrela fissilis), cangeranas (Cabralea canjerana) e angicos (Parapiptadenia rigida). O que caracteriza estes núcleos isolados, é a falta de grande número de espécies arbóreas secundárias. Os capões são a prova do avanço natural da mata virgem sobre o campo, onde aparecem primeiro as espécies mais sóbrias como o bugre (Lithraea brasiliensis), vários espinheiros pertencentes às euforbiáceas como Sebastiania commersoniana e outras, o pau-ferro (Astronium balansae), seguindo depois para formar os primeiros núcleos fechados, o cedro e o louro. Também no centro da região predominantemente campestre, nos arredores de Cruz Alta e Júlio de Castilhos, não faltam os capões.
Segundo o mesmo autor, os capões também são típicos na porção leste do Planalto (São Leopoldo), principalmente nos mananciais de água. Em sua composição destacam-se as espécies arborescentes do parque campestre, que são as aroeiras (Schinus spp.), assim como exemplares da mata virgem como cedro, cangerana, louro, figueira (Ficus luschnathiana), jerivá (Syagrus romanzoffiana), chá-de-bugre (Casearia sylvestris), mamica-de-cadela (Zanthoxylum sp.) e camboatá (Matayba elaeagnoides). No interior cresce vegetação lenhosa baixa, constituída de laranjeira-do-mato (Actinostemum concolor = Gymnanthes concolor), cincho (Sorocea bonplandii), rubiáceas e monimiáceas arbustivas, salsaparrilhas (Smylax sp), entrelaçados por cipós. É uma mata virgem em escala reduzida.
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Região da Floresta Estacional Semidecidual

No Rio Grande do Sul, segundo Teixeira & Coura Neto apud LEITE & KLEIN (1990), abrange a vertente leste do Planalto Sul-Rio-Grandense e a parte leste da Depressão Central Gaúcha, onde também avança sobre terrenos circunvizinhos à Serra Geral e seus patamares.
Para LEITE & KLEIN (1990) o fenômeno da semidecidualidade estacional é adotado como parâmetro identificador desta região por assumir importância fisionômica marcante, caracterizando o estrato superior da floresta. A queda parcial da folhagem da cobertura superior da floresta tem correlação, principalmente, com os parâmetros climáticos históricos ou atuais, característicos desta região.
Segundo os mesmos autores as formações vegetais desta região aproximam-se do tipo das florestas secas, cuja fisionomia é marcada pelo fenômeno da estacionalidade e semidecidualidade foliar, além de diversos outros tipos de adaptações genéticas a parâmetros ecológicos históricos e / ou atuais. A queda foliar das espécies desta região, atinge de 20 a 50% da cobertura vegetal superior da floresta.
Conforme Teixeira & Coura Neto apud LEITE & KLEIN (1990), no Rio Grande do Sul a semidecidualidade ocorre sob clima tipicamente Ombrófilo (sem período seco), porém com quatro meses, ao ano, de médias compensadas inferiores a 15 ºC. Nesta área a intensidade do frio é apontada pelos autores como a causa do fenômeno da estacionalidade foliar. Estes autores afirmam também que no Rio Grande do Sul, a diferença entre Florestas Deciduais e Semideciduais é dada pela ausência da grápia (Apuleia leiocarpa) e a presença de algumas espécies da Mata Atlântica na Floresta Semidecidual. A grápia é uma das grandes responsáveis pela fisionomia caducifólia deste tipo fitogeográfico.
Apesar de se tratar de uma região onde se desenvolve uma floresta fisionomicamente exuberante, com árvores de até 30 a 35 m de altura, observa-se bem mais pobre em formas de vida do que as Florestas Ombrófilas típicas de Sul do País, com estrato superior, em geral, constituído por reduzido número de espécies (LEITE & KLEIN, 1990).
Para os mesmos autores este tipo fitogeográfico apresenta baixa expressividade do epifitismo arborícola, representado principalmente, pelas bromeliáceas, aráceas, orquidáceas e piperáceas. As lianas lenhosas, apesar da grande densidade de indivíduos, sempre bem desenvolvidos, pertencem a reduzido número de espécies.
Se a floresta desta região, no seu todo, mostrava-se bem mais homogênea e mais pobre em espécies e formas de vida do que aquelas das regiões tipicamente Ombrófilas, do Sul do País, convém salientar que esta homogeneidade, aliada ao exuberante desenvolvimento geral alcançado sobre solos derivados do basalto, fez da Floresta Estacional Semidecidual uma das mais ricas do País, em volume de madeira, por unidade de área (LEITE & KLEIN, 1990).
De acordo com os mesmos autores, nos solos derivados do basalto, acompanham geralmente o grupo de espécies já referidas para o estrato emergente da região: figueira-branca (Ficus insipida), rabo-de-mico (Lonchocarpus muehlbergianus), angico-vermelho (Paraptadenia rigida), aguaí (Crysophyllum gonocarpum), canelão (Ocotea cf. acutifolia), sobrasil (Colubrina glandulosa), canela-de-veado (Helietta apiculata) e jerivá (Syagrus romanzoffiana).
No estrato contínuo, ainda no basalto, eram bastante freqüentes: canela-preta (Nectandra megapotamica), guajuvira (Patagonula americana), cangerana (Cabralea canjerana), cedro (Cedrela fissilis) e o palmiteiro (Euterpe edulis).
De modo geral, os estratos das arvoretas e dos arbustos, independentemente das características litopedológicas da região, compunham-se, predominantemente, pelas espécies: cincho (Sorocea bonplandii), laranjeira-do-mato (Gymnanthes concolor), jaborandi ou cutia (Pilocarpus pennatifolius), pau-de-junta (Piper gaudichaudianum) e catiguá (Trichilia elegans).
As áreas ocupadas pela vegetação secundária, invasora, são pouco significativas, e compreendem, geralmente, os terrenos com algum tipo de limitação ao uso agrícola. Leite et al. apud LEITE & KLEIN (1990), relacionam as seguintes espécies na composição geral das formações vegetais secundárias desta região: fumo-brabo (Solanum mauritianum), grandiúva (Trema micrantha), pata-de-vaca (Bauhinia forficata), urtigão-manso (Boehmeria caudata), embaúba (Cecropia sp.), algodoeiro (Bastardiopsis densiflora), capixingui (Croton floribundus), Canela-guaicá (Ocotea puberula).
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Região da Floresta Estacional Decidual

Segundo LEITE & KLEIN (1990) esta região compreende as florestas das porções médias e superiores do vale do Rio Uruguai, da maior parte da vertente sul da Serra Geral e de diversas áreas dispersas pelas bacias dos Rios Ijuí, Jacuí e Ibicuí, cobrindo, no sul do Brasil, uma superfície territorial de aproximadamente 47.000 km².
Para os mesmos autores a área, em geral, é tipicamente Ombrófila sem período seco e com bastante intensidade e regularidade pluviométricas. Seus índices térmicos determinam dois períodos bem distintos: um de 4 a 5 meses, centrado no verão, com médias compensadas iguais ou superiores a 20º C e outro de 2 a 3 meses, centrados no inverno, com médias iguais ou inferiores a 15º C. O clima, apesar de quente-úmido durante boa parte do ano, conserva, por apreciável período, caráter frio, capaz de imprimir restrições à proliferação e ao desenvolvimento de grande número de espécies tipicamente tropicais.
A questão da restrição climática às espécies é abordada por Klein apud LEITE & KLEIN (1990), quando observa que a floresta desta região constitui um prolongamento empobrecido da floresta da bacia do rio Paraná, através da província de Missiones, na República Argentina. Dentre as espécies que não lograram atingir esta região o autor cita: a peroba-rosa (Aspidosperma polyneuron) e o jatobá (Hymenaea stilbocarpa) e o palmiteiro (Euterpe edulis). A ausência destas e de outras espécies perenifoliadas põe em evidência o caráter estacional desta região, manifestado pela quase integral decidualidade da cobertura superior da floresta. Esta queda foliar, tão significativa durante a estação mais fria do ano, faz parte de um processo de hibernação, provavelmente acionado através de reações hormonais. Não se pode descartar a hipótese de que este fenômeno repouse suas causas primárias na arraigada adaptação das espécies a seus gradientes ecológicos históricos e se constitua em testemunha dos processos evolutivos da cobertura vegetal. Evolução esta vinculada às mudanças paleoclimáticas ocorridas no continente sul-americano (Damuth & Fairbridge e Ab'Sáber, apud LEITE & KLEIN, 1990).
As mudanças paleoclimáticos acionam o processo de expansão e retração das formações vegetais, cujos componentes em suas rotas migratórias vão deixando testemunhas (disjunção, encraves e ecótonos) refugiadas ou adaptadas aos novos parâmetros ambientais. Klein apud LEITE & KLEIN (1990) faz referência a um grupo de espécies características da Floresta Atlântica que conseguiram penetrar até o vale do Mampituba e do Maquiné, com algumas alcançando o vale do rio dos Sinos, do Caí e do Taquari. Se estas espécies perenifólias, como a figueira-do-mato (Ficus organensis), a batinga (Eugenia rostrifolia), o mata-olho (Pachystroma longifolium) e o palmiteiro (Euterpe edulis) ao lado das retromencionadas peroba-rosa e jatobá, alcançassem expressão regional, ter-se-ia uma fisionomia característica Ombrófila e não-estacional.
Nesta região o Projeto RADAMBRASIL distinguiu, em seus trabalhos, as áreas onde os encraves e ecótonos proliferam, conceituando-as como áreas de Tensão Ecológica. Assim, surgiram as diversas áreas de contato onde se observa uma interpenetração das formações vegetais de regiões fitoecológicas adversas (LEITE & KLEIN, 1990).
Segundo Klein apud LEITE & KLEIN (1990) podem ser definidos cinco estratos na estrutura organizacional da Floresta Estacional Decidual do Rio Grande do Sul: um emergente, descontínuo, quase integralmente composto por árvores deciduais com até 30 m de altura, como grápia (Apuleia leiocarpa), angico-vermelho (Parapiptadenia rigida), louro-pardo (Cordia trichotoma), maria-preta (Diatenopteryx sorbifolia), pau-marfim (Balfourodendron riedelianum) e canafístula (Peltophorum dubium), além de outras, em geral não tão freqüentes. O segundo estrato apresenta copagem bastante densa e, em geral, predomínio de árvores perenifolias com alturas em torno de 20 m. Dele fazem parte, principalmente lauráceas e leguminosas, sendo a canela-fedida (Nectandra megapotamica) a espécie mais representativa. O terceiro estrato, o das arvoretas, geralmente está formado por grande adensamento de indivíduos pertencentes a poucas espécies, das quais umas são próprias deste estrato e outras encontram-se em desenvolvimento para os estratos superiores. Dentre aquelas características do estrato, destacam-se, pela maior freqüência: o cincho (Sorocea bonplandii), a laranjeira-do-mato (Gymnanthes concolor) e o catiguá (Trichilia claussenii). Para o estrato arbustivo, além de representantes jovens de espécies dos estratos superiores, distinguem-se como características, diversas espécies dos gêneros Piper e Psycotria, cujos indivíduos misturam-se a adensadas touceiras de criciúma (Chusquea ramosissima). Finalmente, tem-se um estrato herbáceo bastante denso e com variadas formas de vida, onde predominam, com freqüência, pteridófitas e gramíneas pertencentes aos gêneros Pharus e Olyra. O estrato herbáceo em terrenos úmidos é constituído, geralmente, pelo gravatá (Bromelia balansae). Os diferentes índices de abertura dos estratos superiores desencadeiam processos de invasão da floresta por espécies comuns das formações secundárias, todas especializadas na colonização de clareiras. Dentre as espécies com estratos ainda não bem definidos podem ser enumerados: taquaraçu (Bambusa trinii), taquara-lisa (Merostachys multiramea) e criciúma (Chusquea ramosissima). Nos povoamentos secundários a vasoura-braba (Baccharis dracunculifolia), o fumo-brabo (Solanum mauritianum), a grandiúva (Trema micrantha) e a pata-de-vaca (Bauhinia forficata), entre os arbustos; a canela-guaicá (Ocotea puberula), o angico-vermelho (Parapiptadenia rigida), o timbó (Ateleia glazioviana), entre as árvores.
Dentro da região, as espécies estão distribuídas muito irregularmente, selecionadas, que são, naturalmente, conforme a aptidão dos diversos ambientes. Em face disto, três tipos de formações podem ser determinados, numa escala ampla de mapeamento: uma aluvial; uma submontana, compreendendo terrenos ondulados e dissecados em altitudes entre aproximadamente 30 e 400 m e uma montana, abrangendo áreas dissecadas com altitudes superiores a 400 m.
A região, atualmente, encontra-se quase completamente destituída de povoamentos florestais. Os poucos povoamentos residuais (cerca de 4,2% do total original) encontram-se alterados e parcialmente descaracterizados (LEITE & KLEIN, 1990).
Distingue-se no Estado duas formações características de Floresta Estacional Decidual: a do Alto Uruguai e da Fralda da Serra Geral.
Segundo RAMBO (1956), a Floresta do Alto Uruguai começa no Rio Ijuí, desenvolve-se no extremo nordeste no maior núcleo de mata fechada do Estado; liga-se entre Passo Fundo e Lagoa Vermelha, ao longo dos afluentes do Taquari, à mata da Fralda da Serra; e reduz-se a um cordão marginal no rio Pelotas.
De acordo com a SUDESUL (1978), esta floresta foi substituída por cultivos anuais diversos, e os resíduos dessa formação encontram-se quase que apenas representados pela Reserva Florestal de Nonoai e Parque do Turvo. A floresta caracteriza-se por apresentar no estrato superior a grápia (Apuleia leiocarpa), louro (Cordia trichotoma), angico (Parapiptadenia rigida), cedro (Cedrela fissilis), alecrim (Holocalyx balansae), canafístula (Peltophorum dubium), timbaúva (Enterolobium contortisiliquum), entre outras. O segundo estrato das árvores, constitui a parte mais densa do interior da floresta, sendo formado basicamente por espécies da família das lauráceas (canelas) e das leguminosas (Lonchocapus, Parapiptadenia, Apuleia e Patagonula). O estrato das arvoretas é representado pela laranjeira-do-mato (Gymnanthes concolor) e caucho (Sorocea bonplandii), principalmente.
Segundo RAMBO (1956), as espécies integrantes da Floresta Uruguaia coincidem, com a Fralda da Serra, mas apesar disso, ocorre certo número de espécies próprias. Entre as árvores, a que se destaca é a canafístula (Peltophorum dubium), paineira (Chorisia speciosa), alecrim (Holocalyx balansae), canelas (Nectandra spp. e Ocotea spp.), ipê-pardo (Tabebuia alba), ipê-amarelo (Tabebuia pulcherrima), tapiá (Alchornea triplinervia), pessegueiro-do-mato (Prunus myrtifolia), marmeleiro (Ruprechtia laxiflora) e maria-preta (Diatenopteryx sorbifolia). Entre as epífitas destaca-se o guaimbé (Philodrendon selloum) e, entre a vegetação arbustiva, a palma-de-São-João (Cordyline dracaenoides) liliácea arborescente. Do resto, sua riqueza consiste de cedro (Cedrela fissilis), louro (Cordia trichotoma), cangerana (Cabralea canjerana), cabreúva (Myrocarpus frondosus) e grápia (Apuleia leiocarpa).
Além dessa formação, ocorre muito desenvolvido na região oeste, os parques de Ateleia glazioviana (timbó). Começa na bacia do Ijuí, orla a margem sul da mata Uruguaia, alcançando seu desenvolvimento máximo nos profundos recôncavos do campo, na região de Santa Rosa, entre os cursos médios dos Rios Inhacorá e Turvo e entre Palmeira das Missões e Iraí. O timbó é a primeira fase do florestamento natural do campo, preparando o solo para a imigração da mata virgem. Quase sempre, pelo menos na bacia do Ijuí, Comandaí e Santa Rosa, o parque timbó vem acompanhado de duas outras espécies: o bugre (Lithraea brasiliensis) e a canela-de-veado (Helietta apiculata), crescendo em lugares rochosos (RAMBO, 1956).
Segundo RAMBO (1956), a Floresta Estacional Decidual da Fralda da Serra Geral começa a oeste, próximo ao Rio Itú, afluente maior do Rio Ibicuí na margem nordeste e termina próximo a Osório, atingindo toda a Serra Geral, e somente se alargando ao longo dos rios. Portanto, limita com as pastagens da campanha ao sul e o planalto ao norte.
Na mata virgem típica nota-se a seguinte distribuição: a orla da mata, a faixa marginal e a mata alta. A orla da mata é uma verdadeira cerca viva de arbustos e ervas, entre as quais a cressiuma (Chusquea ramosissima) ocupa o lugar principal. A faixa marginal consiste de arbustos e árvores pequenas, como Gymnanthes concolor (laranjeira-do-mato), Sorocea bonplandii (cincho), Urera baccifera (urtigão) e espécies de Abutilon e Boehmeria. A mata alta compõe-se em toda extensão da Serra, das seguintes espécies típicas: Phytolacca dioica (umbú), Zanthoxylum spp. (mamica-de-cadela), Cedrela fissilis (cedro), Cabralea canjerana (cangerana), Cordia trichotoma (louro), Myrocarpus frondosus (cabriúva), Parapiptadenia rigida (angico), Apuleia leiocarpa (grápia), Enterolobium contortisiliquum (timbaúva), Luehea divaricata (açoita-cavalo), Patagonula americana (guajuvira), Ocotea spp. e Nectandra spp. (canelas) e Vitex megapotamica (tarumã) (RAMBO, 1956).
Segundo o mesmo autor, a mata compõe-se de cinco andares: a vegetação de solo, com avencas, gramíneas, arbustos e ervas de pequena altura. A mata baixa, constituída essencialmente de laranjeira-do-mato, cincho, cressiuma, Piper spp., Celtis spinosa (tala-espinhosa), urtigão, Trichilia elegans (pau-de-ervilha), Geonoma weddelliana (uricana). Os cipós são: Mikania sp. (guaco), Aristolochia sp. (cipó mil-homens), Smylax spp. (salsaparrilhas), Bignonia unguis-cati, arrabidea chica, Cuspidaria sp., Srjania sp., Paullinea sp. e Bauhinia microstachya (cipó-escada-de-macaco). As epífitas são orquídeas (Cattleya sp. e Oncidium sp.), cactáceas como Rhipsalis sp., bromeliáceas (Tillandsia sp. e Uredsia sp.), musgos e líquens. As matas secundárias (lavouras abandonadas), consistem de Solanum mauritianum, Trema micrantha, Baccharis dracunculifolia no início, surgindo depois ingá-feijão (Inga marginata), angicos, canelas e pata-de-vaca (Bauhinia forficata).
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Região da savana (Cerrados e Campos)

Segundo LEITE & KLEIN (1990), Savana é a palavra de origem indígena antilhana de onde procede o termo "Habana". Foi empregada, inicialmente, por Oviedo que, com Valdez, em 1851, a teriam atribuído aos "lhanos" venezuelanos. Posteriormente, muitos autores passaram a adotá-la como Drude (1889), Chevelier (1932), Lanjouw (1936), Trochain (1951 e 1954) e Aubreville (1956), Schnel, (1971).
A Savana para estes e outros autores é vegetação típica de países tropicais marcados por estação seca; é a Savana (Cerrado) do Brasil Central, cuja estrutura apresenta dois estratos distintos: um baixo, dominado por hemicriptófitos e caméfitos, em geral com folhas grandes e duras e outro de manofanerófitas retorcidas, de casca grossa e fissurada, esparsamente dispostas.
Conforme estes autores, as teorias conhecidas sobre as prováveis causas das Savanas classificam-se em três grupos: teoria climática, teoria biótica (das queimadas) e teorias pedológicas. Esta última mais provável para as diversas áreas de Savana gramíneo-lenhosa da Região Sul, conforme os trabalhos do Projeto RADAMBRASIL.
O conceito de Savana foi ampliado a partir de 1975, pelo Projeto RADAMBRASIL, para incluir a maioria dos campos do Sul do País. Como argumento fundamental e esta decisão, aquele projeto considerou o repouso fisiológico-vegetativo hibernal característico daqueles campos. Fenômeno este desencadeado por ação climática atual e histórica (paleoadaptação climática), aliadas, conforme a área, a outras características do ambiente, como: relevo aplainado ou plano-deprimido com solo mal drenado, terrenos areníticos e arenosos de má qualidade, derrames basálticos ácidos, solos rasos, quartzosos e/ou lixiviados e pedogênese férrica (solos distróficos e álicos), além de aspectos relacionados à lentidão do processo de expansão natural das comunidades arbóreas sobre campos, em face das características acima referidas (LEITE & KLEIN, 1990).
Esta ampliação conceitual estendeu a Savana até o eixo Rosário do Sul-Bagé-Jagurão (Fronteira do Uruguai), contactando com todas as regiões fitoecológicas do Sul do País e assumindo expressão em área, da ordem de 141.000 km². Deste total, persistem atualmente, cerca de 81.000 km², sob a forma de Savana manejada e parcialmente descaracterizada (Leite & Sohn; Teixeira & Coura Neto; e Pastore & Rangel Filho, apud LEITE & KLEIN, 1990).
A ocorrência da Savana nas mais variadas situações geográficas do Sul do País não parece poder ser atribuída, inteiramente, à ação direta do clima atual, visto que a ação climática, embora acentuada ou atenuada por outros elementos, não explica suficientemente toda a distribuição e diferenciação das formações vegetais. Rambo apud LEITE & KLEIN (1990) afirma a esse respeito, baseando-se nas hipóteses de Schimper (1898) e de Lindmasn (1906): grande parte dos campos são relictos de um clima mais seco, hoje lentamente sujeitos à invasão pela selva pluvial e do pinhal".
Para demonstrar que o clima por si só não explica tudo acerca da distribuição das formações vegetais, Rambo apud LEITE & KLEIN (1990), referindo-se ao predomínio dos campos (Savana) no clima florestal da Serra de Sudeste-RS, acrescenta: "Quanto ao fator climático ela (a serra) pertence a formação de mato (florestal); mas no compromisso entre clima e solo, o clima levou a pior, de maneira que de fato predomina o campo principalmente devido ao fator edáfico".
Como respeito a isso, os autores citam um trecho de Lindman (1906): Acontece então, muitas vezes, que presencia o caso que, mesmo em clima de mata virgem, não há mata virgem se o clima não possibilita; igualmente ve-se no Sul do Brasil matas altas no auge do seu desenvolvimento rodeadas de campos com um solo tão bom e profundo quanto no terreno da mata. É isto aplicável não somente às matas de anteparo ao pé d'água como também aos capões altos e sombrios nas vertentes secas do terreno ondulado do planalto". Então o autor formula a seguinte questão, respondida a seguir por ele próprio: "Se o clima do Rio Grande é favorável à vegetação florestal porque cessam as matas, bruscamente limitadas, apesar de que nem o clima nem o solo a impediu? Ele responde: "... fica-se quase reduzido a admitir que a vegetação nestas regiões de mistura do Brasil Sul ainda se acha num estado preparatório, que os campos ainda em grande partem vegetam num "clima florestal" moderado, até que a rede das matas ao longo dos cursos d'água tenham tempo para estender-se sobre uma área do País (se a intervenção humana não o impedir), influído sobre a qualidade do terreno e exercendo também alguma influência sobre o aumento da precipitação,..."
LEITE & KLEIN (1990) afirma que o clima das Savanas da Região Sul caracteriza-se por período frio (Tm < ou = 15ºC) de 3 a 8 meses, centrados no inverno, e quente (Tm > ou = 20ºC) de zero a 3 meses centrados no verão com chuvas bem distribuídas durante o ano.
Segundo LEITE & KLEIN (1990) distingue-se, no Rio Grande do Sul, três formas de Savana: Arbórea Aberta, Parque e Gramíneo-lenhosa.
A Savana Arbórea Aberta concentra-se, principalmente, nos terrenos aplainados areníticos. São formações típicas de Savana (cerrado) constituindo disjunções ou áreas de contato com as regiões das florestas Mista e Estacional Semidecidual. Apresenta, normalmente um estrato arbóreo-arbustivo esparso, perenifoliado e com características de escleromorfia oligotrófica, sob o qual se desenvolve num descontínuo estrato de plantas hemicriptófitas, camélias e geófitas. Estas áreas de Savana estão em franco extermínio em face da expansão da agricultura. Na região do Escudo sul-rio-grandense distinguem-se algumas áreas com Savana Aberta, porém apenas pela típica distribuição espacial dos aglomerados arbóreos, já que florística e fisionomicamente os elementos diferem dos da Savana Aberta (Cerrado), não apresentando as conhecidas características xeromórficas oligotróficas do Cerrado.
A Savana-Parque pode ter origem antrópica ou natural. A derivada do antropismo ocorre indiscriminadamente, caracterizando o disclímax do fogo, instrumento de ação seletiva de espécies, aplicado aos pastos naturais pelo homem. O parque natural geralmente ocorre em ambientes especiais e apresenta significativa uniformidade fitofisionômica e florística. Sua estrutura pode ser definida por dois estratos: um arbóreo-arbustivo, esparso, constituído de poucas espécies, em geral, perenifoliadas, e outro rasteiro, contínuo, onde predominam hemicriptófitas, caméfitas e geófitas. No Rio Grande do Sul, a Savana-Parque compreende uma faixa irregular estendida para leste de São Marcos, acompanhando à margem direita do Rio São Tomé. Associa-se, em amplas áreas, aos derrames ácidos de Mesozóico e a solos Litólicos ou rasos, com afloramentos rochosos. O terreno apresenta-se de ondulado a forte-ondulado com níveis altimétricos, em geral, superiores a 1.000 m. A Araucaria angustifolia ocorria com esmagadora dominância fisionômica, isolada, em agrupamentos esparsos ou em florestas-de-galeria. O tapete Gramíneo-Lenhoso é formado em cerca de 50 a 60% de capim-caninha (Andropogon lateralis), associado a outras espécies cespitosas e rizomatosas. Além da Araucária, encontram-se nos capões e florestas-de-galeria diversas outras espécies características de Floresta Ombrófila Mista. Teixeira & Coura Neto, citados pelos autores, opinam que sua composição florística está sofrendo alterações, em face das freqüentes queimadas e do contínuo pastoreio, ainda a principal atividade desenvolvida nestes campos.
Outro tipo de Savana-Parque situa-se no Planalto Sul-Rio-Grandense (zona do escudo), em relevo forte-ondulado e até montanhoso e de litologia do Pré-Cambriano, com solos comumente muito susceptíveis à erosão e marcados por freqüentes afloramentos rochosos. Os parques (Savana) do escudo apresentam temperaturas amenas, em face, principalmente, das suas menores altitudes. Do ponto de vista fitofisionômico estes parques mostram-se sensivelmente variáveis. Observam-se amplas áreas com vegetação arbórea extremamente rarefeita ao lado de outras com consideráveis agrupamentos de arvoretas e árvores. Junto aos cursos de água e nas encostas de morros, mais freqüentemente abrigadas dos ventos, ocorrem os agrupamentos florestais mais desenvolvidos. A composição dos agrupamentos florestais inclui elementos comuns tanto à Floresta Estacional Decidual quanto à Ombrófila Mista, além de outros de origem não bem definida, em geral, com dispersão e freqüência bastante irregulares. Dentre eles destacam-se: aroeira-salsa (Schinus molle), molho (Schinus polygamus), taleira (Celtis tala), coronilha (Scutia buxifolia) e pinheiro-brabo (Podocarpus lambertii).
O aspecto do Parque torna-se mais pronunciado pela ocorrência dos grupos de arvoretas típicas, nos quais os elementos de diversas espécies, baixos e frondosos, apresentam idêntica fisionomia, aparentando pertencerem a uma única espécie. Dentre estas têm-se: veludinho (Guettarda uruguensis), pitangueira (Eugenia uniflora), aguaí (Chrysophyllum marginatum), pau-de-junta (Coccoloba cordata) e canela-de-veado (Helietta apiculata). Nas florestas-de-galeria encontram-se os elementos típicos da Floresta Estacional: guajuvira (Patagonula americana) e angico-vermelho (Parapiptadenia rigida).
A Sanava Gramíneo-Lenhosa tem expressão considerável no Sul do País, distribuindo-se, principalmente, no âmbito da região das Araucárias, cujas espécies características vão constituir-lhe as matas-de-galeria e capões. No Rio Grande do Sul, além das grandes áreas de Savana associada aos derrames ácidos, encontram-se também Savanas sobre arenitos Tupanciretã, Santa Tecla, Guaxaim e outros, também em solos rasos (litólicos) do Pré-Cambriano e sobre areias quartsozas.
Em função do grau de interferência antrópica e das características locais do ambiente, a Savana Gramíneo-Lenhosa pode apresentar duas nuanças fisionômicas distintas: nos campos onde prevalece um tapete de elementos hemicriptofíticos cespitosos e baixos além de geófitos rizomatosos intercalados de caméfitas, predominam representantes das Gramineae, Cyperaceae, Leguminosae e Verbenaceae. A estes campos interpõem-se outros constituídos, em menor escala, por aqueles elementos já referidos, aos quais associam-se, principalmente, as caméfitas: Baccharis spp., Eryngium spp., Vernonia spp. e a geófita Pteridium aquilinum (samabaia-das-taperas), cuja proliferação nos campos parece desfavorecida pelo pisoteio do gado e pela intensificação do antropismo sobre as Savanas.
Araújo apud LEITE & KLEIN (1990) publicou uma relação de espécies características dos primitivos campos do Rio Grande do Sul. A maioria dos gêneros citados ainda ocorre hoje com bastante freqüência na área em estudo, destacando-se: Andropogon, Aristida, Elyonurus, Eryanthus, Panicum, Paspalum, Schizachyrium e Trachypogon.
A forma de dispersão do Andropogon lateralis (capim-caninha), talvez o capim dominante nos campos primitivos, sugere uma diferenciação climática entre o planalto e o extremo sul-rio-grandense. No planalto, distribui-se abundante e uniformemente e chega a participar com 70 a 90% da composição (nos solos húmicos da área de Taimbezinho estimou-se 90 a 95 % a ocorrência deste capim), proliferando indiscriminadamente em todos os ambientes, passivelmente em face das elevadas precipitações e evapotranspiração reduzida. Nas posições mais meridionais, esta espécie limita-se aos ambientes muito úmidos, às depressões, margens de banhados ou sedimentos do Quaternário (provavelmente, porque nestes ambientes se fazem menos intensos o pisoteio e as queimadas).
Para LEITE & KLEIN (1990) as florestas-de-galeria e os capões são outros importantes elementos destas Savanas. Eles se desenvolvem a partir das nascentes de água e dos riachos, coalescendo, freqüentemente, em amplos e irregulares povoamentos florestais. Nota-se significativa diferenciação quanto à composição florística destes povoamentos. Nas altitudes mais baixas do planalto, bem como na região do Escudo e da Campanha, predominam, na fisionomia dos capões e matas-de-galeria, as espécies características da Floresta Estacional Decidual. Em certos locais, como adjacências de Palmeira das Missões / Sarandi (RS), o timbó (Ateleia glazioviana) tem importância fisionômica marcante, principalmente pelo seu comportamento agressivo na conquista e colonização dos campos.
Para os mesmos autores, os capões geralmente são arredondados. Aqueles representantes da Floresta Ombrófila Mista, como as florestas-de-galeria, têm as orlas compostas por espécies mais heliófitas, principalmente guamirim-do-campo (Myrcia bombycina), guamirim (Myrceugenia euosma), guamirim-ferro (Calyptranthes concinna), branquilho (Sebastiania commersoniana), pau-de-bugre (Lithraea brasiliensis), aroeira (Schinus terebinthifolius), erva-mate (Ilex paraguariensis), congonha (Ilex dumosa), caúna (Ilex spp.), pinheiro-bravo (Podocarpus lambertii) e casca-d'anta (Drimys brasiliensis). Para o centro destes agrupamentos florestais encontram-se as espécies menos exigentes em luz ou com outros tipos hormonais, como: canela-sassafrás (Ocotea odorifera), ipê-amarelo (Tabebuia alba), pessegueiro-bravo (Prunus myrtifolia), pimenteira (Capsicodendron dinisii), imbuia (Ocotea porosa), murta (Blepharocalyx salicifolius), camboatá-branco (Matayba elaeagnoides) e pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia).
Na maioria dos capões, o solo acha-se revestido por um tapete de gramíneas rizomatosas (geófitas) principalmente das espécies grama-tapete-de-folha-larga (Axonopus compressus) e pastinho-do-mato (Pseudochinolaena palystachya).
Embora muito lentos e freqüentemente paralisados ou retardados em face do antropismo, operam-se nos campos, naturalmente no ciclo pedológico atual, processos sucessionais das espécies, sempre em correspondência com os parâmetros locais do ambiente. Klein apud LEITE & KLEIN (1990) explica que "os campos são invadidos por associações arbustivas e arbóreas bastante características, formando assim o início de uma série que tende para as associações mais evoluídas da Formação da Araucária, que por sua vez, também são substituídas pelas associações da mata pluvial, que melhor correspondem ao ciclo climático atual".
Atualmente, tornou-se difícil reconstituir-se a composição natural original dos campos, em face de todas estas formas de manejo, ocupação e uso. Foi observado que as queimadas periódicas e o pisoteio do gado desestimulam o desenvolvimento das espécies cespitosas (capins) e favorecem as rizomatosas (gramas), geralmente muito mais freqüentes e adaptadas.
Segundo RAMBO (1956), a vegetação campestre da Serra do Sudeste é muito variada. Nas coxilhas dos morros arredondados e nos picos mais elevados da serra, desenvolvem-se os campos limpos, entremeados com muitos blocos de granitos descobertos, ou semi-enterrados. Predomina aí uma vegetação rasteira de gramíneas, verbenáceas e compostas, principalmente espécies do gênero Paspalum e Verbena.
Em porções planas do terreno ou nas depressões onde o solo é mais profundo e a umidade é mais abundante, desenvolve-se o campo sujo, coberto de carquejas (Baccharis sp.) e touceiras de capim alto.
Abaixo da metade dos flancos, avançando em muitos pontos mais acima, onde se misturam com o campo sujo, desenvolvem-se os vassourais, formando comunidades de 1 a 3 metros de altura, dominadas pela vassoura-vermelha (Dodonea viscosa). Associada a ela é comum espécies de gravatá-do-campo (Eryngium), bem como arbustos baixos de compostas verbenáceas e leguminosas, assim com gramíneas do gênero Andropogon.
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Região da Estepe (Campanha)

De acordo com VELOSO & GÓES FILHO (1982), no extremo meridional do Rio grande do Sul (ao sul dos eixos aproximados Bagé-Rosário do Sul, Alegrete-São Borja) estendem-se amplas superfícies conservadas do Planalto da Campanha e da Depressão do Rio Ibicuí-Rio Negro, com relevo aplainado a ondulado e dominância de solos derivados dos derrames basálticos e de diversas formações litológicas sedimentares. Revestindo estas feições geomorfológicas desenvolvem-se formações campestres classificadas pelo Projeto RADAMBRASIL como Estepe. Esta palavra de origem Russa significa, vulgarmente, "deserto". Inicialmente foi aplicada para definir a vegetação da Zona Holártica submetida a dois períodos de estacionalidade fisiológica distintos, provocados, um pelo frio e outro pela seca. A partir da reunião de Yangambi, em 1956, oficializou-se a denominação Estepe, para a zona paleotropical, aos tipos de vegetação submetidos a dupla estacionalidade. Assim, a vegetação lenhosa decidual, em geral espinhosa, de plantas suculentas e com tapete herbáceo graminoso estacional das áreas tropicais, foi considerado homóloga da Estepe das áreas temperadas, pelos fitogeógrafos africanos.
Segundo RAMBO (1956) a região das Estepes da Campanha compreendem as fontes do Rio Negro, a vertente brasileira do Quaraí, toda a bacia sul do Ibicuí e a bacia norte do mesmo até o pé da Serra Geral. Assim os limites são: ao leste, o divisor de águas entre a bacia atlântica e o Rio Uruguai; ao norte, o talude do planalto sul brasileiro; ao oeste, o Rio Uruguai; ao sul, a fronteira com a República do Uruguai. Abrange os municípios de Livramento, Uruguaiana, Quaraí, Alegrete e Rosário do Sul, bem como parte de Bagé, Dom Pedrito e Itaqui.
Para o mesmo autor é a região do Estado que mais ostenta o caráter do campo sul-brasileiro, pois a vegetação silvática só na borda setentrional chega a constituir em mata virgem, deixando todo o resto à flora graminácea, com tênues cordões de galerias.
Segundo LEITE & KLEIN (1990), a região da Estepe no sul do Brasil não apresenta déficit pluviométrico. Chove normalmente durante o ano inteiro. Os índices térmicos são elevados no verão e baixos no inverno, quando as médias, inferiores a 15 ºC, perduram por mais de 3 meses, com freqüentes penetrações de frentes polares, com geadas e ventos frios de velocidade moderada (minuano).
"A alternância de períodos quentes e frios, acompanhada de sensíveis variações da pressão atmosférica confere a estas áreas característica climática própria, abrigando massas de ar quente ou ar frio independentemente da dinâmica climática zonal. A presença de barreiras montanhosas a norte e a leste protegem a Campanha Gaúcha das massas de ar tropicais" (Pastore e Rangel Filho apud LEITE & KLEIN, 1990).
Segundo estes autores as Estepes ocupam superfície aproximada de 30.000 km² e seus solos são eutróficos, geralmente cálcicos e às vezes solódicos, reflexo de um clima pretérito mais frio e árido.
HUECK (1972) afirma que as condições climáticas dos Pampas sul-rio-grandenses deveriam permitir a formação de floresta e, no entanto, a história revela a presença dos campos de pastagens totalmente destituídas de árvores, desde os primórdios da sua ocupação.
Segundo Ab'Sáber apud LEITE & KLEIN (1990), os mecanismos climáticos e as diferenças paleoclimáticas fundamentais entre a provável situação glacial e glácio-estática do final do Pleistoceno e a interglacial atual são demonstrados por Damuth e Fairbridge. Uma das diferenças básicas mostradas é que a corrente Falkland (fria) no Pleistoceno ultrapassa o trópico de Capricórnio, enquanto, no período atual, sequer alcança a latitude de Montevidéu; e a corrente quente do Brasil, que na atualidade avança além da latitude dos 35º Sul, no Pleistoceno não atingia o Trópico de Capricórnio. Nestas circunstâncias, é de se supor a ocorrência de amplas áreas estépicas e desérticas frias no extremo Sul do País, no final do Pleistoceno (há 13.000-18.000 anos), bem como a penetração da calota glacial até o paralelo 45º Sul, ao norte de Comodoro Rividária, República Argentina.
LEITE & KLEIN (1990) colocam que embora estas considerações ainda careçam de maiores confirmações para serem aceitas como verdade científica, permitem entrever possibilidade de explicações para interessantes questões como a da ocorrência de campos em região de clima tipicamente florestal e a dinâmica sucessional das formações fitoecológicas ao longo do tempo geológico, que culminou no atual mosaico da cobertura vegetal do País. Um aspecto marcante da fisionomia da Estepe é a grande uniformidade do relevo, que condiciona a formação de uma cobertura vegetal tipologicamente simples. Na sua imensa maioria, a Estepe compreende uma formação Gramíneo-Lenhosa típica, destituída de aglomerados arbustivo-arbóreo significativos. Estes, quando ocorrem, estão associados aos acidentes mais pronunciados do terreno e/ou aos microambientes mais bem dotados e/ou mais protegidos dos ventos.
Dentre as espécies mais freqüentes das estepes podem ser mencionados: A capim-caninha (Andropogon lateralis e Andropogon sellowianus), o capim-touceira (Sporobulus indicus) e Eragrostis baiensis, além de inúmeras espécies dos gêneros Stipa, Aristida, Panicum, Erianthus, Piptochaetium, etc (LEITE & KLEIN, 1990).
Observam-se, também, amplas áreas de relevo plano-deprimido à suave ondulado, às vezes, com algum problema de hidromorfismo e aeração dos solos, em geral, submetidas a intenso uso e manejo. Nestes locais observa-se a dominância de gramíneas rizomatosas (geófitas), principalmente grama-forquilha (Paspalum nonatum) e grama-jesuíta (Axonopus fissifolius), ambos com ampla dispersão no Sul do País.
Os povoamentos arbóreo-arbustivos em restritos locais podem assumir maior expressão e constituir os denominados Parques de Estepe, como é o caso do Parque do Espinilho, um prolongamento da Estepe chaquenha da República Argentina. Dentre as espécies arbóreas mais comus podem ser citados: o algarrobo (Prosopis algarobilla), espinilho (Acacia caven), quebracho-branco (Aspidosperma quebracho-branco) e sombra de touro (Acanthosyris spinescens) em geral decícuas e espinhosas.
Lindman apud RAMBO (1956), diz que as sociedades vegetativas da Campanha riograndense estão adaptadas às seguintes condições de vida: crescimento em local desabrigado, terreno quente e pobre em água, pouca precipitação. Por conseguinte, a vegetação deve ser considerada como xerófita.
Campo propriamente dito, formação principal da Campanha não é, de maneira nenhuma, uma sociedade uniforme. Constituído essencialmente pelas famílias das gramíneas, compostas e leguminosas, que ocasionam grande variabilidade de formações, sendo de difícil descrição pormenorizada. Só a grandes traços é possível delinear os seus aspectos mais importantes. No topo plano dos tabuleiros a vegetação é paupérrima em espécies; no dorso das coxilhas é uniforme e denso; nas planícies é alto, muito fechado, entremeado de arbustos e árvores, com transição para a mata palustre. As paisagens mais típicas estão no município de Quaraí, Alegrete e Uruguaiana (RAMBO, 1956).
Para SUDESUL (1978) os campos da Campanha, localizados na porção meridional do Rio Grande do Sul, apresentam uma grande diversidade de formações locais, face as várias diferenciações de solo. Apresentam a característica de se desenvolverem em altitudes de até 300 metros e são utilizadas principalmente com pecuária.
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Região da Savana Estépica (Campanha Gaúcha)

Na região Sul, segundo LEITE & KLEIN (1990), estas formações vegetais compreendem uma área de cerca de 10.000 Km² distribuída, aproximadamente, entre Santiago, Alegrete e Santana do Livramento, em plena zona da campanha Gaúcha, parcialmente encravada entre a Savana e a Estepe. Com tal disposição, a Savana Estépica forma uma cunha de direção norte-sul submetida aos mesmos parâmetros climáticos gerais da Savana e da Estepe circunvizinhas.
De acordo com os mesmos autores, estas formações vegetais estendem-se por terrenos fracamente dissecados, suave-ondulado a ondulados e derivados, principalmente dos arenitos Botucatu e Rosário do Sul. Ao norte e ao oeste encontram-se, ainda, em solos derivados do basalto, na transição litológica deste com o Botucatu.
Como acontece na região da Estepe, onde o inverno mostra-se excessivamente frio e o verão excepcionalmente quente, tem-se aqui, também, o fenômeno da dupla estacionalidade fisiológico-vegetativa, no qual os fatores litopedológicos desempenham importante papel.
O conceito geral da savana estépica está associado ao xeromorfismo. Em linhas gerais, a Savana Estépica compreende formações savanícolas com estrato lenhoso entremeado de plantas espinhosas, inclusive cactáceas. Com este significado Trochain (1957) adotou a expressão para designar formações xerófitas africanas (VELOSO E GOÉS FILHO, 1982).
Do ponto de vista fitofisionômico, distinguem-se, nesta região, segundo LEITE & KLEIN (1990), as formações Savana Estépica Arbórea Aberta, Parque e Gramíneo-Lenhosa. De modo geral, estas formações identificam-se pelas características comuns do tapete graminoso. As diferenciações ficam por conta, principalmente, da estrutura da vegetação lenhosa (arbórea-arbustiva-subarbustiva).
Assim, em toda a sua extensão, o estrato rasteiro da Savana Estépica compõem-se, predominantemente, de espécies dos gêneros: Stipa, Andropogon, Aristida e Erianthus, além de outros, associados às gramíneas rizomatosas, principalmente, do gênero Paspalum e as plantas das famílias de leguminosas, umbelíferas, verbenáceas, oxalidáceas etc. Convém ressaltar a importância e a fragilidade do tapete graminoso como elemento protetor dos solos da região. Nas proximidades de Alegrete e Itaqui são observadas amplas aberturas (descontinuidades) da cobertura graminosa, onde extensos areais afloram, caracterizando o que os pesquisadores classificam como "pontos de desertificação". Tais "micro desertos" tem sido atribuídos à inadequação do uso dos solos regionais, de textura extremamente arenosa, frente às condições climáticas atuais. Outra característica comum a estes campos é a acentuada tomentosidade da cobertura gramíneo-lenhosa, devida, principalmente, à grama-forquilha (Paspalum nonatum), que empresta à paisagem uma coloração acinzentada.
A vegetação lenhosa (arbórea-arbustiva-subarbustiva) parece indiscriminadamente distribuída pelos campos, porém suas concentrações estão vinculados aos microambientes mais favoráveis. Dentre as espécies mais comuns na composição destes agrupamentos lenhosos encontram-se: o pau-ferro (Astronium balansae), aroeira-do-fruto-chato (Lithraea molleoides), aroeira-cinzenta (Schinus lentiscifolius), canela-de-veado (Helietta apiculata), taleira (Celtis tala) e espinilho (Acacia caven), além de outras, diversas delas originárias da Estepe Chaquenha.
Segundo os mesmos autores é importante para a caracterização da região a ocorrência de agrupamentos de cactáceas, principalmente dos gêneros Cereus (mandacaru) e Opuntia, coroa-de-frade (Melocactus spp.) em geral associados aos afloramentos rochosos.
Também, dignas de nota são ainda as florestas-de-galeria, em cuja composição florística dominam espécies características da Floresta Estacional Decidual, tais como: guajuvira (Patagonula americana), açoita-cavalo (Luehea divaricata), angico (Parapiptadenia rigida), marmeleiro-do-mato (Ruprechtia laxiflora) e branquilho (Sebastiania commersoniana).
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Parque do Espinilho
A região do Parque Espinilho no Rio Grande do Sul é denominada por LEITE (1994), Região da Estepe Estacional Savanícola. O conceito de Estepe Savanícola está associado ao xerofitismo. No extremo sudoeste do Estado, a fisionomia apresenta algumas particularidades. O próprio ambiente, em si, difere sensivelmente dos demais. O relevo é, em geral, dominantemente aplainado e entalhado em derrame basáltico. Os solos, em geral, são Brunizém Vértico, predominantemente eutróficos. As características de estacionalidade climática são bem marcantes, com reflexos sensíveis na cobertura vegetal, que passa a comportar maior incidência de espécies espinhosas oriundas da região quente/seca chaqueana. Nota-se certa intensificação do calor, motivada, principalmente, pelas baixas altitudes associadas à continentalidade e redução comparativa da pluviosidade, na medida do afastamento das encostas do planalto e da costa leste. Podem ser citados outros fatores coadjuvantes para intensificação da inclemência do clima local. O principal deles é a penetração de frentes polares, com ventos mais frios e mais secos. Esta livre ação eólica intensifica os fenômenos de evapotranspiração das superfícies plano-onduladas e da própria cobertura vegetal. As temperaturas tendem a ser mais elevadas, com médias do mês mais quente (janeiro) de 24 ºC (até 26 °C) e máximas absolutas acima de 40 ºC (até 42 ºC). O período frio (médias inferiores a 15 °C) apesar de não muito intenso, como nas situações mais elevadas planaltinas, tem duração superior a três meses, com médias do mês mais frio (julho) entre 13 e 15 ºC e mínimas absolutas entre -4 °C e -8 ºC, com até dez noites frias (temperatura média menor ou igual a 0 ºC), durante o ano; freqüentemente há formações de geadas.
Segundo o mesmo autor, a vegetação característica do Parque Espinilho é a Formação Gramíneo-Lenhosa, que compreende formações com estrato lenho entremeado de plantas espinhosas, inclusive cactáceas. Uma formação xerofítica espinhosa homóloga africana foi denominada Savana Estépica por Trochain em 1957. Os campos espinhosos sul-riograndenses, pelo que se observa, ocorrem na forma de encraves ou disjunções das formações xerofíticas do Chaco Central da Argentina. Aglomerações arbóreo-arbustivas espinhosas, em restritos locais, quando assumem maior expressão constituem uma Formação Parque, como é o conhecido Parque do Espinilho. Dentre as espécies mais comuns desta região destacam-se: algarrobo (Prosopis algarobilla), quebracho-blanco (Aspidosperma quebracho-blanco), sombra-de-touro (Acanthosyris spinescens), em geral, espinhosas e decíduas.
MARCHIORI; LONGHI & GALVÃO (1983) identificaram duas espécies de Prosopis, características do Parque do Espinilho, quais sejam: Prosopis affinis (inhanbuvá), nome correto para Prosopis algarobilla e Prosopis nigra (algarrobo).
Em outro trabalho MARCHIORI; LONGHI & GALVÃO (1985) incluem a Acacia caven (espinilho) e Scutia buxifolia (coronilha) como elementos arbóreos comuns no Parque Espinilho típico, acompanhadas das epífitas e lianas Tillandsia duratti, Tillandsia ixioides e Exolous patens e das cactáceas Opuntia bonaerensis e Cereus uruguayanus.
Nesta região, em locais sob influência de umidade, outras espécies surgem junto aos Prosopis, principalmente Acacia caven, Aspidosperma quebracho-blanco e Parkinsonia aculeata (cina-cina). Formando pequenos agrupamentos aparecem Scutia buxifolia, Guettarda uruguensis (veludinho), Sebastiania brasilienis (branquilho-leiteiro), Xylosma venosum (espinho-judeu), Chrysophylum marginatum (aguaí) e algumas mirtáceas (MARCHIORI & LONGHI, 1985).
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Áreas de Formações Pioneiras
Segundo LEITE & KLEIN (1990) a expressão formação pioneira é usada para denominar o tipo de cobertura vegetal formado por espécies colonizadoras de ambientes novos, isto é, de áreas subtraídas naturalmente à outros ecossistemas ou surgidos em função da atuação recente ou atual dos agentes morfodinâmicas e pedogenéticos. As espécies, ditas pioneiras, desempenham importante papel na preparação do meio à instalação subseqüente de espécies mais exigentes ou menos adaptadas às condições de instabilidade ambiental.
Formações Pioneiras são, pois, formações vegetais ainda em fase de sucessão, com ecossistemas dependentes de fatores ecológicos instáveis (Leite et al., apud LEITE & KLEIN, 1990).
É evidente que o tempo de duração desses ecossistemas é imprevisível, pois as áreas ocupadas por estas formações são de história recente e ainda dependente de fatores bastante instáveis. Assim, o equilíbrio ecológico dessas formações pode ser rompido naturalmente dentro de um tempo relativamente mais curto do que o das áreas dependentes de fatores mais estáveis, como por exemplo as constantes transformações do mangue pelo assoreamento fluviomarinho; a invasão das restingas pelas florestas, a rápida transformação dos campos de várzea assim que cessam as inundações periódicas (LEITE & KLEIN, 1990).
Para os mesmos autores, a formulação do conceito das Formações Pioneiras, fundamentam-se no processo natural de expansão da cobertura vegetal sobre ambientes naturais, isto é, isentos de ação antrópica. Caso em que, geralmente, a flora mostra-se pouco adaptada ou com significativa tolerância às condições de instabilidade natural dos parâmetros ambientais. Convém esclarecer que a áreas antropizadas, isto é, degradadas ou arrasadas em sua vegetação original, apresentam um processo natural de recomposição da cobertura vegetal, no qual se observa a invasão, em séries sucessionais, das espécies recolonizadoras, num nítido pionerismo ocupacional. Este processo desenvolve-se em compatibilidade com o tipo de formação original de cada área e com seu índice de degradação. Não se tem, neste caso, a Formação Pioneira, porém, sim, a denominada formação secundária, que passa por diversas fases se desenvolvimento em direção ao reestabelecimento de um clímax climático compatível com as condições edáficas locais. Ao longo destas fases verificam-se substituições sucessivas entre as espécies, umas surgindo preparando o ambiente e cedendo-o às outras, também substituídas, numa fase mais evoluída do ecossistema. Neste caso, é grande o contingente florístico autóctone ou alóctone que integra os povoamentos vegetais, todos em estreita dependência residual do ambiente antropizado.
Como as Formações Secundárias, as Formações Pioneiras podem ser, em geral, classificadas, quanto à estrutura e fisionomia, em geral arbóreas, arbustivas e herbáceas, umas com e outras sem contingentes expressivos de palmáceas.
Quanto ao tipo de ambiente em que se desenvolvem, classificam-se, no Sul do Brasil, as Formações Pioneiras em três grupos: as de influência marinha, as de influência fluviomarinha e as de influência fluvial (LEITE & KLEIN, 1990).
No Rio Grande do Sul somente são encontradas áreas de Formações Pioneiras de Influência Marinha, que são as Restingas litorâneas.
Segundo Leite e Sohn apud (LEITE & KLEIN, 1990), são formações vegetais sob influência direta do mar, distribuídas por terrenos arenosos do quaternário recente, geralmente com algum teor salino, sujeitos à intensa radiação solar e acentuada ação eólica.
De acordo com a SUDESUL (1978), a vegetação de restinga ocorre geralmente em área superior às dunas, com fisionomias diversas, que podem ir desde o porte herbáceo até o arbóreo, sendo constituída tanto de espécies das dunas como das florestas limítrofes.
Muitos de seus elementos tem caracteres de xerofilismo e se considerar a totalidade da área ocupada pelas restingas, isto é, os cordões arenosos e depressões úmidas entre os mesmos, são comuns as espécies hidrófilas e higrófilas. Nas áreas onde a vegetação de restinga se apresenta com a feição de mata, numerosas são as palmeiras, como a içara ou juçara (Euterpe edulis), o jerivá (Syagrus romanzoffiana) e a guariacana (Geonoma gamiova), bom como certas mirtáceae, destacando-se os gêneros Myrcia, Eugenia, Gomidesia, geralmente de porte arbustivo. Onde há mais umidade e o solo contém um certo teor de húmus, a vegetação se torna arbórea, formando matinhas, com caracteres mesófilos e até mesmo higrófilos. Há então maior ocorrência de epífitas, representadas principalmente por bromeliáceas, cactáceas, aráceas e orquidáceas (SUDESUL, 1978).
Segundo LEITE & KLEIN (1990) há uma grande variedade de ambientes circunscritos a esta formação, dentre os quais merecem destaque, pela maior importância fisionômica, os seguintes: a faixa de praia, as dunas instáveis, as dunas fixas e as aéreas aplainadas e plano-deprimidas e os costões rochosos.
A faixa de praias, ambiente pobre em vegetação, em face da maior instabilidade e do elevado índice salino, onde se encontram poucas espécies, em geral, psamófitas hálofitas rasteiras, tais como: espartina (Spartina coliata), bredo-da-praia (Philoxerum portulaccoides), macega-gaúcha (Senecio crassoflorus), grama-rasteira-da-praia (Paspalum distichum), pinheirinho-da-praia (Remirea maritima), salsa-da-praia (Ipomea pescaprae) entre outras.
As dunas instáveis, irregularmente dispersas, ocupam posições estratégicas, na restinga, logo atrás da linha de praia. São áreas fortemente assoladas pelos ventos, com freqüente mobilização de areia e com vegetação muito escassa. Dentre as espécies mais comuns encontram-se a espartina, o capim-das-dunas (Panicum racemosum), grama-branca (Panicum reptans), feijão-da-praia (Sophora tomentosa), mangue-da-praia (Scaecola plumieri) e camarinha (Cordia verbenacea).
As dunas fixas distribuem-se por amplas áreas das planícies litorâneas, em situações onde a ação eólica não faz tão intensa, sob proteção dos cordões dunares móveis e semifixos. Nestas dunas observam-se maior compactação e transformação estruturais das camadas de areia, com retenção de umidade e metamorfização do pacote, para uma incipiente metamorfização e formação de solo. O processo de estruturação de solo está estreitamente vinculado à presença de uma cobertura vegetal também ainda incipiente, porém mais rica em espécies de que nas áreas anteriores. Aqui, são observadas diversas espécies arbustivas e arbóreas, constituindo capões multidimensionais, desempenhando importante papel estabilizador das dunas. Pela maior importância fisionômica, destacam-se as seguintes espécies: aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolius), guamirim-miúdo (Eugenia ramboi), guamirim-da-folha-miúda (Myrcia pubipetala), pau-de-bugre (Lythraea brasiliensis), a capororoca-da-praia (Myrsine sp.), maria-mole (Guapira opposita) e outras.
Entre os cordões de dunas e na faixa de contato das restingas com as formações florestais, encontram-se superfícies aplainadas e/ou plano-deprimidas por vezes, com inúmeras lagoas. Em geral são áreas sujeitas à inundações ou encharcamento, onde predomina uma Formação Pioneira de estrutura herbácea ou Gramíneo-Lenhosa. Nestes locais destacam-se espécies seletivas higrófitas como juncos (Juncus spp.), grama-branca (Panicum reptans), taboa (Typha domingensis) e rainha-dos lagos (Pontederia lanceolata). Entremeado a estes banhados, freqüentemente encontram-se "tesos ou albardões" onde se desenvolvem aglomerações arbóreas ou arbustivas em geral, com predominância de vacunzeiro (Allophylus edulis), canela (Ocotea pulchella), tapiá-guaçu (Alchornea triplinervia), combuí (Myrcia multiflora).
De modo geral, as Formações Pioneiras marinhas têm sofrido, também, o impacto do antropismo, sendo paulatinamente dizimadas em face a ampliação dos balneáreos e de outros tipos de intervnsão (LEITE & KLEIN, 1990).
De acordo com Klein apud LEITE & KLEIN (1990), ao longo do litoral, nos pontos onde os costões rochosos do embasamento pré-cambriano bordejam o mar ou se erguem constituindo inúmeras ilhas, desenvolve-se uma vegetação típica, sob ação direta dos ventos e da salinidade marinha. Trata-se de formações subarbustivas, arbustivas e até arbóreas, de características xerofíticas, cuja composição florística varia conforme o ambiente: na base dos costões, encontram-se agrupamento de bromeliáceas rupestres, como Dyckia encholirioides, Aechme nudicaulis e Aechme recurvata, além de gramíneas, como Stenotaphrum secundatum, Paspalum distichum, etc.; nos locais menos íngremes, onde já se pode notar incipiente camada de solo, observam-se freqüentemente arbustos e arvoretas de capororoca-da-praia (Myrsine sp.), racha-ligeiro (Pera ferruginea), mangue-de-formiga (Clusia criuva), balieira (Cordia verbenacea), mandacaru (Cereus sp.), maria-mole (Guapira opposita), dentre outras; nos ambientes mais adequados, com solo mais bem estruturado, a vegetação já apresenta porte arbóreo, onde assumem importância sociológica espécies como capororocão (Myrsine umbellata), camboatá-vermelho (Cupania vernalis), figueira-mata-pau (Coussapoa microcarpa), baga-de-pombo (Byrsonima ligustrifolia), gerivá (Syagrus romanzoffiana), e muitas outras características da Floresta Ombrófila Densa Montana.
Segundo RAMBO (1956), a zona dos olhos de água, na qual inclui a das lagoas marginais, a vegetação difere completamente das dunas, pelo melhoramento das condições ecológicas. As poças de água estagnada são centros de intensa vegetação, sendo cobertas por denso tapete de algas verdes, e nas margens ocorrem gramíneas, ciperáceas, verbenáceas e leguminosas rasteiras, além de certos núcleos da mata arbustiva e exemplares de Erythrina cristagalli. Nas regiões palustres, ocorrem espécies flutuantes como Eichhornia crassipes (Pontederiácea), Salvinia auriculata e Azolla filiculoides (Pteridófitas), além de espécies de Wolffiella e Lemna (Lemnáceas). Também ocorrem Eichhornia azurea, Pontederia cordata, Regnellidium diphyllum e Eichinodorus grandiflorus (chapéu-de-couro). Em zonas mais secas, ocorrem Lycopodium inumdatum, Ranunculus sp., Drosera brevifolia, além de verbenáceas, urticáceas e leguminosas rasteiras.
Segundo o mesmo autor, na zona do campo, com solo seco e duro, forma uma vegetação rala e baixa, formada principalmente de gramíneas como: Andropogon leucostachyus, Cenchrus tribuloides, Paspalum, ciperáceas como Fimbristylis complanata e Kyllinga pungens; umbelíferas como Hydrocotyle umbellata, Centella asiatica e Eryngium nudicaule, verbenáceas e outras. Ocorrem às vezes capões formados por espécies arbustivas das mirtáceas, melastomatáceas e compostas lenhosas, sobrepujadas por gerivás e figueiras, e nas margens a Dodonaea viscosa (vassoura-vermelha) e compostas arbustivas. Em campo aberto, exemplares isolados de figueiras (Ficus luschnathiana), gerivás (Syagrus romanzoffiana), louro (Cordia trichotoma), cedro (Cedrela fissilis) e butiá (Butia sp.).
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Áreas de Tensão Ecológica (Contatos)

Segundo LEITE & KLEIN (1990), as diversas regiões fitogeográficas nem sempre apresentam nítida individualização. De modo geral, há uma gradual mudança fitofisionômica e florística evidenciada pelos diversos tipos de encraves e ecótonos (misturas), que caracterizam as faixas de contato inter-regionais.
Para VELOSO et al.(1991) são comunidades indiferenciadas onde as floras de duas ou mais regiões ecológicas ou tipos de vegetação se interpenetram. Ecótono é o contato entre tipos de vegetação com estruturas fisionômicas semelhantes e sua delimitação é quase imperceptível. Encraves são áreas encravadas situadas entre duas regiões ecológicas distintas, e são de fácil delimitação.
No Rio Grande do Sul, foram mapeados os seguintes tipos de contatos: Savana/Floresta Estacional, Savana/Estepe e Savana/Savana Estépica (LEITE & KLEIN, 1990).

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